'Não teremos paz até que os preconceitos sejam superados', afirma Thomas Bach

'Não teremos paz até que os preconceitos sejam superados', afirma Thomas Bach
Thomas Bach, presidente do COI, escreveu um artigo condenando o racismo e a discriminação no Dia Internacional da Paz. O dirigente quer solidariedade na base dos Jogos Olímpicos que acontecerão novamente daqui pouco menos de dois anos, em Paris-2024. Confira o artigo:

O tema do Dia Internacional da Paz deste ano: "Acabe com o racismo. Construa a paz", ecoa de forma particular no COI e no Movimento Olímpico. A ideia fundamental por trás dos Jogos Olímpicos é unir o mundo inteiro numa competição pacífica. A paz está no centro desta missão.

Nos Jogos Olímpicos, os atletas personificam esta missão de paz quando põem de lado as diferenças que dividem o mundo. Competem fervorosamente uns contra os outros pelo prêmio mais alto, enquanto vivem pacificamente juntos sob o mesmo teto na Vila Olímpica. Isto torna os Jogos Olímpicos um poderoso símbolo de paz.

Mas a paz é muito mais do que pôr de lado as diferenças. Trata-se de criar um mundo melhor onde todos possam prosperar, onde as pessoas sejam tratadas com igualdade, e onde não haja lugar para o racismo ou quaisquer outras formas de discriminação.

Pierre de Coubertin reviveu os Jogos Olímpicos para dar uma contribuição à paz por meio do esporte. Ele disse: "Não teremos paz até que os preconceitos que agora separam as diferentes raças sejam superados."

A não discriminação está, portanto, no DNA do COI e dos Jogos Olímpicos. Nos Jogos, todos são iguais, independentemente da raça, origem social, gênero, orientação sexual ou crença política. O princípio da não discriminação está consagrado na Carta Olímpica. Os atletas dão vida a este princípio durante os Jogos Olímpicos, inspirando bilhões de pessoas em todo o mundo.

Mas, quando se trata de construir uma paz duradoura, a não discriminação sozinha não é suficiente. Não basta apenas respeitarmo-nos uns aos outros - temos de ir mais longe e apoiarmos-nos mutuamente. Temos de nos unir em solidariedade. Não há paz sem solidariedade.

A solidariedade está na base dos Jogos Olímpicos. É por isso que o COI redistribui 90% de todas as suas receitas para apoiar os atletas e o desenvolvimento do esporte em todo o mundo.

Impulsionado pelo nosso compromisso com a solidariedade, o COI criou a primeira Equipe Olímpica de Refugiados para os Jogos Olímpicos Rio 2016 e outra para os Jogos Olímpicos Tóquio 2020. Pela primeira vez na história Olímpica, atletas refugiados competiram lado a lado com as equipes de todos os outros Comitês Olímpicos Nacionais, enviando uma mensagem de esperança e inclusão a todos os refugiados do mundo. Como não têm nenhuma equipe nacional a que pertencer, nenhuma bandeira para marchar atrás, nenhum hino para ser tocado e nenhum lar que possam chamar de seu, recebemos os atletas refugiados nos Jogos Olímpicos com a bandeira Olímpica e o hino Olímpico. Demos-lhes uma casa na Vila Olímpica. A mensagem Olímpica deste momento emotivo foi: vocês são parte da humanidade e enriquecem a nossa comunidade Olímpica.

Hoje, estamos juntos em solidariedade com a comunidade Olímpica ucraniana. O que se aplica à Ucrânia também se aplica a outros membros da nossa comunidade Olímpica. Somos uma organização global. É por isso que apoiamos as comunidades Olímpicas no Afeganistão, no Iêmen e em tantos outros locais afetados por guerras e conflitos em todo o mundo.

Estes esforços de solidariedade também estão na base do nosso compromisso de construir uma melhor compreensão entre as pessoas. Desta forma, o COI vem construindo pontes por meio do esporte e abrindo as portas para compreensão, paz e reconciliação. Isto tem acontecido nos últimos anos em muitas situações de conflito, como na Coreia do Norte e do Sul, na Armênia, no Azerbaijão, na Sérvia, no Kosovo, em Israel, na Palestina, no Irã e em muitas outras.

Num momento em que a humanidade enfrenta tantas crises existenciais ao mesmo tempo, a nossa missão de paz e solidariedade é mais importante do que nunca. Os Jogos Olímpicos não podem evitar guerras e conflitos. Não podem enfrentar todos os desafios políticos e sociais do nosso mundo. Mas podem servir de exemplo de um mundo onde todos respeitam as mesmas regras e uns aos outros.

Há uma nova ordem mundial em construção. Atualmente, já é possível ver que esta nova ordem mundial será mais divisória do que aquela que estamos tentando alcançar.

Esta infeliz tendência é totalmente oposta à nossa missão Olímpica de unir o mundo numa competição pacífica. Sabemos que nestes tempos de divergência e confrontos, não estamos sozinhos na procura por um vínculo comum de humanidade. Milhões de pessoas em todo o mundo anseiam pela paz. Juntamente com todas estas pessoas bem intencionadas, queremos dar a nossa modesta contribuição para a paz, unindo o mundo inteiro numa competição pacífica.