O juiz Francisco Soliman, da 1ÂȘ da Comarca de Costa Rica, encaminhou para o MinistĂ©rio PĂșblico Estadual a missão de investigar o ex-prefeito de Costa Rica, Waldeli Rosa, por suposto favorecimento a própria empresa.
O juiz rejeitou a ação civil pĂșblica solicitando ressarcimento ao erĂĄrio, com improbidade administrativa contra o ex-prefeito Waldeli dos Santos Rosa e a empresa ParanĂĄ ImobiliĂĄria Consultoria e Construção Civil Ltda. A denĂșncia foi feita pelo atual prefeito, Delegado Cleverson.
Solimam entendeu que a demanda não pode ser admitida porque o MunicĂpio não cumpriu as etapas necessĂĄrias ao ajuizamento desta ação. Ou seja, o atual prefeito não ofereceu a possibilidade de um acordo com o ex-prefeito.
"A deliberação motivada sobre a não celebração de acordo de não persecução civil prĂ©vio à distribuição da ação judicial; o respeito ao devido processo administrativo, mediante apuração estruturada dos fatos, observado o contraditório e a ampla defesa; e o inoportuno reconhecimento da possibilidade de solução consensual (f. 1.061/1.068). Tudo isso conduz à ausĂȘncia de interesse processual, sob o vĂ©rtice da indispensabilidade do provimento jurisdicional", decidiu.
Francisco Soliman ressaltou que não estĂĄ dizendo que houve "mĂĄ-fĂ© ou abuso de direito pelo requerente, mas apenas descumprimento de etapa fundamental e prĂ©via ao ajuizamento da ação, que, por conseguinte retira sua base de sustentação jurĂdica, notadamente no que pertine ao interesse processual na dimensão da necessidade. Todavia, os fatos merecem investigação".
O juiz decidiu enviar a denĂșncia para o MinistĂ©rio PĂșblico Estadual, denominado por ele como órgão imparcial para defesa dos interesses coletivos. Ao justificar o encaminhamento, ele ainda pontuou que Waldeli e Cleverson devem se enfrentar na eleição de outubro.
"A investigação pelo MinistĂ©rio PĂșblico, na hipótese, afastarĂĄ qualquer dĂșvida quanto à primazia do interesse pĂșblico, em prestĂgio ao princĂpio da impessoalidade, o qual norteia a Administração PĂșblica (art. 37 da CF), afinal, não se pode olvidar do componente polĂtico entre os personagens, haja vista que o atual Prefeito (Cleverson Alves dos Santos), ora representante do requerente, e o ex-prefeito (Waldeli dos Santos Rosa), ora requerido, são antagonistas polĂticos nesta cidade e, ambos, jĂĄ manifestaram intenção de disputar o cargo de Prefeito no pleito eleitoral que se avizinha, fato este notório, conforme amplamente divulgado pela imprensa local e regional, de maneira que a investigação dos fatos pelo MinistĂ©rio PĂșblico, instituição alheia a esse debate, por seus competentes Promotores de Justiça, propiciarĂĄ o melhor desfecho ao interesse pĂșblico, que ao fim e ao cabo, Ă© o mote pelo qual todo agente pĂșblico ou polĂtico deve primar".
O caso
O MunicĂpio denuncia que Waldeli dos Santos Rosa foi prefeito de 2012 à 2020 e nunca deixou de ser sócio administrador da empresa, o que Ă© vedado por lei. AlĂ©m disso, em 2019, enquanto comandava o Executivo Municipal, sua empresa (ParanĂĄ ImobiliĂĄria), inaugurou o loteamento JATOBĂS I, requerendo sua aprovação junto ao MunicĂpio de Costa Rica.
Segundo a denĂșncia, o Código Municipal de Parcelamento de Solo Urbano de Costa Rica - Lei Complementar n. 64/2016 (doc.3), especificamente em seu art. 5Âș, exige pavimentação asfĂĄltica, sinalização de vias e galerias para escoamento de ĂĄguas pluviais para aprovação do loteamento. Todavia, segundo a prefeitura, o cumprimento da norma mencionada escapava aos loteamentos oriundos da ParanĂĄ ImobiliĂĄria.
"O modus operandi dos rĂ©us era o seguinte, antes de cumprir com as obrigações de asfaltamento e escoamento de ĂĄguas pluviais exigidos, a empresa rĂ© doava as ruas sem nenhuma benfeitoria ao municĂpio, e este aceitava de "bom grado" a doação, enquanto as demais empresas só poderiam realizar a doação das vias, após a realização de todo asfaltamento e escoamento de ĂĄguas pluviais e vistoria final", diz a denĂșncia.
Ainda segundo a denĂșncia, o residencial JATOBĂS I, sequer foi vistoriado para doação das ruas ao MunicĂpio. Em contraponto, em loteamentos não gerenciados pela ImobiliĂĄria ParanĂĄ, a vistoria era exigĂȘncia de procedibilidade do loteamento, a exemplo do jĂĄ citado, loteamento Flamboyant, que Ă© apenas um entre tantos loteamentos, nos quais foram observadas as determinações legais.
R$ 30 milhões
Diante dos fatos, o municĂpio solicitou tutela antecipada para multar Waldeli em R$ 10.077 milhões, somados a R$ 20.154 milhões de multa, o que representaria o dobro do prejuĂzo dado ao erĂĄrio.
"Seja decretada, liminarmente, a indisponibilidade de bens dos requeridos no montante dos danos e multas legalmente previstas R$ 30.232.401,70 (trinta milhões, duzentos e trinta e dois mil, quatrocentos e um reais e setenta centavos), comunicando-se a indisponibilidade dos bens móveis e imóveis a todos os órgãos de Registro ImobiliĂĄrio do Estado de Mato Grosso do Sul, bem como ao DETRAN e CIRETRAN, em relação aos veĂculos registrados em seus nomes".
A prefeitura tambĂ©m solicitou a suspensão dos direitos polĂticos pelo prazo de 14 anos, bem como a proibição de contratar com o poder pĂșblico ou receber benefĂcios ou incentivos fiscais ou creditĂcios, direta ou indiretamente, ainda que por intermĂ©dio de pessoa jurĂdica da qual seja sócio majoritĂĄrio, pelo prazo de quatorze anos, nos termos do artigo 12, inciso I, da Lei n.Âș 8.429/92.
Outro Lado
Em nota, o ex-prefeito disse que não foi formalmente citado e desconhece detalhes. AlĂ©m disso, lamentou que a denĂșncia pareça, segundo ele, ter cunho polĂtico. Abaixo a nota na Ăntegra:
"Em relação à recente ação judicial, esclareço que atĂ© o momento não fui formalmente citado e desconheço os detalhes dos fatos alegados. Lamento que esta situação pareça ter um cunho polĂtico e eleitoreiro. Confio plenamente na justiça e lamento profundamente que tais alegações tenham surgido apenas após a minha posse como presidente Municipal do MDB, no Ășltimo dia 14/11. A cada dia, reforço meu compromisso em esclarecer a verdade e continuo dedicado ao povo costarriquense. Estou confiante de que, no devido processo legal, os fatos serão esclarecidos de forma justa e transparente. Estou preparado para a defesa e comprometido com a verdade para esclarecimento de todos os fatos e com o povo costarriquense. Finalizo dizendo: confio em Deus, na justiça e na democracia. O povo costarriquense pode confiar que isso não passa de ameaças eleitorais e que a verdade aparecerĂĄ"!