O ex-prefeito de Campo Grande Marcos Marcello Trad e o empreiteiro André Luiz dos Santos, o Patrola, foram denunciados à Justiça por crimes sexuais, investigados desde julho deste ano após denúncias feitas na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Os crimes relatados são de assédio, importunação sexual e favorecimento da prostituição.
O primeiro fato denunciado na terça-feira (8) pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) à 3ª Vara Criminal de Campo Grande trata de crime que ocorreu entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019. Marquinhos, então prefeito de Campo Grande, teria constrangido uma mulher "com intuito de obter favorecimento sexual, prevalecendo-se de sua condição de superior hierárquico".
Quem assina a denúncia encaminhada ao Judiciário é o promotor Alexandre Pinto Capiberibe Saldanha da 15ª Promotoria de Justiça de Campo Grande. Agora caberá ao juiz a quem será designado o processo aceitar ou não a denúncia.
Em agosto de 2017, a vítima foi nomeada para um cargo comissionado na Prefeitura, onde permaneceu até 2021. Em dezembro de 2018, ela foi ao gabinete para pedir uma transferência, sendo levada para conversar diretamente com o prefeito. É relatado que a vítima já estava com medo, por saber das "histórias de abordagens sexuais" de Marquinhos.
Assim, a vítima conversou com o então prefeito, que disse que iria ver o que poderia fazer. Quando a servidora foi sair da sala, Marquinhos tentou dar um beijo na vítima, que se esquivou. Ela acabou exonerada da Prefeitura após sofrer assédio moral também por parte da chefe.
Conversa de WhatsApp entre a vítima e Marquinhos aponta que ele a chamava de "princesa" e assediava a servidora, que não demonstrou interesse, apenas queria a transferência para outra secretaria.
A segunda vítima teria sido importunada por Marquinhos em 23 de dezembro de 2019, durante inauguração de um posto de saúde no Jardim Aeroporto. O então prefeito teria praticado ato libidinoso contra a vítima.
Conforme o MPMS, a mulher fazia parte de uma associação de bairro e participou de reunião no gabinete de Marquinhos naquela época. Ele pediu que ela enviasse um ofício com as solicitações feitas pelo WhatsApp.
Após a reunião, eles tiraram uma foto e Marquinhos teria passado a mão no cabelo da vítima, pedindo que ela enviasse a foto para ele depois. A vítima não encaminhou a foto e, após repassar o documento solicitado pelo então prefeito, recebeu dele a mensagem "Quero te ter, quero você".
A mensagem foi apagada em seguida. Tempos depois, em 23 de dezembro de 2019, na inauguração do posto de saúde, Marquinhos disse para a vítima que ela não respondeu à mensagem, depois de a cumprimentar com um beijo na bochecha, "de forma melada, pegajosa e libidinosa", aponta o MPMS.
A vítima acabou deixando a associação do bairro, desmotivada após perceber o interesse sexual do ex-prefeito enquanto tentava resolver as necessidades do bairro.
Em 2020, em 5 ocasiões na Prefeitura de Campo Grande, Marquinhos teria atraído a terceira vítima à prostituição ou outra forma de exploração sexual. Esta mulher teria recebido uma proposta de trabalho de uma amiga, que seria um cargo comissionado.
Ela teria que conversar pessoalmente com Marquinhos e foi marcado encontro no gabinete da Prefeitura. No dia, Marquinhos teria tentado beijar a vítima, que se recusou. Depois, ele teria passado a enviar mensagens dizendo que amava a vítima e que queria vê-la novamente.
A mulher passou a frequentar o gabinete, esperando que fosse contratada. Apesar disso, em todas as vezes, Marquinhos Trad teria investido, abordando assuntos de cunho sexual. A vítima acabou mantendo relações com o ex-prefeito no banheiro do gabinete, sendo nomeada para um cargo na Prefeitura em 2020.
A vítima teria ouvido de Marquinhos que só precisaria assinar a folha de ponto, sem precisar trabalhar presencialmente. Em agosto, ela foi apresentada a André Patrola, ocasião em que teria se sentido "vendida" ao empreiteiro. "Dá uma viradinha porque eu gosto de bunda", disse o empresário para a vítima naquele dia, frase essa que consta no depoimento da vítima à Polícia Civil.
Em junho deste ano, a vítima voltou a procurar Marquinhos no comitê, enquanto candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul. Nesta ocasião, ele novamente teria tentado beijar a vítima, que se recusou. O MPMS entende que, neste caso, o ex-prefeito se aproveitou da situação financeira da vítima, que precisava de um emprego para exploração sexual.
Conforme o MPMS, em 2020, esta quarta vítima, passando por problemas financeiros, foi apresentada ao ex-prefeito por uma amiga, alegando que ele poderia ajudá-la. No gabinete da Prefeitura, Marquinhos passou a dar investidas, chamando a vítima para ir até o banheiro.
A vítima relatou que foi agarrada pelo ex-prefeito, mas se negou a manter relação sexual e percebeu que o convite até o gabinete era apenas de cunho sexual.
A quinta mulher apontada como vítima de Marquinhos é amiga de uma outra vítima. Ela foi informada que o ex-prefeito queria conhecê-la porque tinha visto fotos no Instagram e pediu o contato do WhatsApp. Como ela estava desempregada e soube que podia ter ajuda para conseguir um emprego, acabou passando o número.
Marquinhos logo passou a trocar mensagens com a vítima e em setembro de 2020 ela foi até a Prefeitura. No gabinete, o então prefeito chegou a dizer que ajudaria financeiramente a vítima enquanto não surgisse uma vaga de emprego. Depois, ela foi levada ao banheiro, onde houve relação sexual.
Após o sexo, Marquinhos entregou R$ 700 para a vítima. Os encontros sexuais aconteceram quatro vezes, sendo que em todas a vítima recebia valores entre R$ 500 e R$ 1 mil. O MPMS também entende que a vítima, precisando de dinheiro, foi explorada sexualmente pelo então prefeito de Campo Grande.
A sexta mulher citada pelo MPMS também se encontrou com Marquinhos na Prefeitura, em dezembro de 2021. Assim como as outras vítimas, ela foi em busca de uma vaga de emprego, mas acabou assediada pelo então prefeito.
Os dois mantiveram relação sexual no banheiro do gabinete e a vítima chegou a pedir que Marquinhos usasse preservativo, o que foi negado, quando ele pediu que ela "confiasse nele". Foram quatro encontros sexuais entre a vítima e o prefeito, que sempre prometia conseguir um emprego para ela, o que nunca aconteceu.
Nos encontros, Marquinhos deu dinheiro em espécie para a vítima.
Conforme o MPMS, em maio de 2022, servidora de um hospital em Campo Grande estava trabalhando, quando houve convocação para que os coordenadores fossem assistir à fala do então candidato ao Governo, Marquinhos Trad. A vítima foi até a sala, onde estavam outros funcionários.
Marquinhos chegou ao local com a equipe e foi falar diretamente com a vítima, dando um beijo no rosto e um abraço. A vítima aponta que ele manteve "olhar fixo e malicioso" para ela. Incomodada, ela saiu da sala, quando Marquinhos disse: "Não. Você não vai... Volta aqui! Nós vamos tirar uma foto juntos".
Durante a foto, Marquinhos teria apertado as costas da vítima, passando as mãos até mesmo nas nádegas da mulher, que se esquivou. Depois, tentou ainda pegar o telefone da vítima, para que ela enviasse a foto e disse para ela o chamar, "pois tinha uma coisa boa para ela".
André Patrola aparece na denúncia do MPMS por ter aliciado três mulheres à prostituição ou outra forma de exploração sexual. O trecho da denúncia trata de "festinha" já relatada pelo Jornal Midiamax, em que estavam ainda outras figuras públicas.
Na ocasião, Patrola chamou as vítimas para irem ao Aeroporto Santa Maria, de onde saíram para a festa em uma fazenda de Coxim, de avião. Com as vítimas estava um delegado da Polícia Civil, que também foi para a "festinha".
Uma das mulheres relatou que foi coagida por Patrola, já que qualquer negativa a ele poderia resultar no desligamento das atividades junto à Prefeitura de Campo Grande, em cargo que conseguiu após manter relações com Marquinhos.
Na volta para Campo Grande, cada uma das mulheres recebeu R$ 1 mil, como uma forma de pagamento pelas relações sexuais que mantiveram na festa. O fato configura o crime de exploração sexual, pelo qual Patrola foi denunciado.
Sendo assim, Marquinhos responde por crimes de assédio sexual, importunação sexual e favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual. Patrola responde, por três vezes, por este último crime.
Foram apresentadas 16 testemunhas, que devem ser ouvidas no decorrer do processo.
Marquinhos Trad alegou, na época das denúncias, que tudo seria parte de uma 'armação política' para prejudicar a candidatura dele a governador de Mato Grosso do Sul após uma discussão por WhatsApp com o secretário de estado de Segurança, Carlos Videira.
Marquinhos Trad (PSD) admitiu que cometeu adultério com ao menos duas das denunciantes enquanto era prefeito de Campo Grande, mas nega os crimes sexuais. Já em 2018, uma denúncia envolvendo suposto assédio contra uma menor aprendiz da Prefeitura chegou ao conhecimento da polícia civil.
Na época, o caso acabou arquivado e a jovem, conforme apurou o Jornal Midiamax, ganhou um cargo sem concurso público no gabinete da Prefeitura de Campo Grande.