Israel bombardeou nesta sexta-feira (10) diversos pontos da Faixa de Gaza, em particular na cidade de Rafah, no extremo sul da região. A cidade abriga quase 1,4 milhão de palestinos, a maioria deslocados pela guerra de outras áreas da Faixa, o que provoca, segundo a ONU, o temor de um “banho de sangue”. Desde segunda-feira (6), mais de 100.000 pessoas fugiram da cidade para procurar refúgio em outras áreas do território depois que Israel ordenou a evacuação da zona leste da localidade.
Disparos de artilharia israelense contra Rafah foram observados nesta madrugada em Rafah e testemunhas também relataram bombardeios e combates na Cidade de Gaza, no norte do território palestino. Israel reportou que quatro soldados foram mortos durante os combates ao norte da região nesta sexta-feira (10).
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou suspender o envio de alguns armamentos a Israel caso o país inicie uma grande ofensiva contra Rafah. “Se precisarmos ficar sozinhos, ficaremos. Como já havia afirmado, se for necessário, vamos combater com unhas e dentes”, respondeu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Ontem, uma rodada de negociações indiretas terminou sem acordo no Cairo, onde os mediadores buscavam uma trégua entre Israel e o movimento islamista palestino após sete meses de guerra.
O primeiro-ministro israelense considera necessária uma ofensiva terrestre em Rafah, onde, segundo ele, estão os últimos batalhões do Hamas. Israel executa desde terça-feira incursões no leste de Rafah e tomou o controle da passagem de fronteira com o Egito, crucial para a entrada de ajuda humanitária. O Exército israelense afirmou que prossegue com a “operação antiterrorista limitada” em algumas áreas de Rafah.
Agências da ONU alertaram para as consequências do fechamento da passagem de Rafah, por onde entrava todo o combustível utilizado em Gaza, e da passagem de Kerem Shalom, reaberta na quarta-feira após três dias de bloqueio.
A diretora do Unicef, Catherine Russell, destacou que se a entrada de combustível não for permitida, “as consequências serão sentidas quase imediatamente”. “As incubadoras para bebês prematuros ficarão sem energia elétrica, crianças e famílias ficarão desidratadas ou consumirão água imprópria e os esgotos transbordarão, propagando doenças”, disse.
Segundo o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, uma ofensiva terrestre israelense em Rafah provocaria uma “catástrofe humanitária épica”. “Quase 30.000 pessoas fogem da cidade a cada dia”, afirmou o diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) para Gaza, Georgios Petropoulos.
Petropoulos explicou que “a maioria destas pessoas teve que se deslocar cinco ou seis vezes” desde o início, em outubro, do conflito entre Israel e Hamas, que governa Gaza desde 2007. Algumas pessoas caminham até Khan Yunis, uma cidade em ruínas que fica alguns quilômetros ao norte, enquanto outras não sabem para onde seguir.
A guerra começou em 7 de outubro de 2023 com o ataque sem precedentes do Hamas no sul de Israel, que deixou mais de 1.170 mortos, a maioria civis. Os milicianos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas no ataque. Após a troca de reféns por prisioneiros palestinos em uma trégua em novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais acredita-se que 36 morreram, segundo as autoridades de Israel.
Em retaliação, Israel iniciou uma ofensiva que já deixou 34.904 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas. Nos últimos dois dias, os países mediadores nas negociações (Catar, Egito e Estados Unidos) tentaram concretizar um pacto que permitiria a libertação de reféns israelenses e evitaria um ataque a Rafah.
O movimento islamista, que aceitou na segunda-feira a proposta apresentada pelos mediadores, afirmou em uma carta a outros grupos palestinos que Israel rejeitou a oferta. “Consequentemente, a bola está agora totalmente com a ocupação”, afirma o texto do Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Segundo uma fonte do movimento palestino, a última proposta estabelecia uma trégua de três fases, cada uma delas com 42 dias de duração. Também incluía a retirada de Israel de Gaza e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos, visando um “cessar-fogo permanente”. No entanto, Israel respondeu que a oferta estava “longe das suas exigências” e reiterou sua oposição a um cessar-fogo permanente antes de uma vitória contra o grupo islamista.
*Com informações da AFP