É grande a possibilidade de o ex-governador, André Puccinelli (MDB) anunciar, nos próximos dias, a desistência da candidatura a prefeito de Campo Grande. O anúncio deve iniciar outra novela, com enredo: quem Puccinelli apoiará?
Adversários e filiados ao MDB sempre desconfiaram da candidatura porque, embora repita que é pré-candidato, em várias ocasiões, o ex-governador deixou claro que poderia recuar.
A renúncia deve ter como principal justificativa a falta de recurso do partido para a campanha, o que para muitos é apenas uma desculpa do ex-governador, já que o partido encomendou uma pesquisa que, segundo emedebistas, aponta Puccinelli como melhor candidato na qualitativa.
Recentemente, Puccinelli contou para pessoas mais chegadas que sua candidatura poderia ser derrubada pela nacional para servir a interesses da coligação PSDB/MDB em São Paulo, o que foi desmentido pelo MDB local. Neste cenário, ele teria que apoiar o candidato do PSDB em Mato Grosso do Sul, em troca de apoio do PSDB de Sao Paulo para o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição para a maior cidade do País.
Indagado sobre a possibilidade deste boicote acontecer, o deputado estadual Junior Mochi (MDB) afirmou que o MDB de Mato Grosso do Sul tem diretório constituído e, portanto, autonomia para definir candidatura própria. Neste contexto, segundo Mochi, Puccinelli só não seria candidato se não quisesse.
Ao dizer que poderia ter a candidatura derrubada pela nacional, Puccinelli chegou a falar que dinheiro nem era mais o problema, porque tinha conseguido promessa de investimento de pelo menos R$ 10 milhões.
Década de derrotas
Há dez anos, Puccinelli deixava o governo, ainda reinando na política local. Na ocasião, era visto como favorito para o Senado, mas desistiu para abrir espaço a Nelsinho Trad (então MDB) na disputa para o governo, com Simone Tebet (MDB) para o Senado.
Nelsinho perdeu e Simone foi eleita. Depois disso, Puccinelli viveu dias difíceis, chegando a ficar preso por cinco meses. Ele chegou a dizer à reportagem que, ter desistido do Senado, certamente foi um erro político.
A prisão impediu Puccinelli de concorrer com Azambuja em 2018. Ele voltou para a urna em 2022 e figurava como favorito até o efeito Jair Bolsonaro levar Capitão Contar (PRTB) para o segundo turno.
O terceiro lugar rendeu a Puccinelli a primeira derrota após anos de sucesso, onde reinou absoluto na política de Mato Grosso do Sul. O ex-governador não escondeu a decepção de perder e disse em algumas situações que faltou grana, reconhecendo também o peso das máquinas do governo do Estado e Federal, que apoiaram Eduardo Riedel (PSDB) e Contar.
Puccinelli sentiu o peso das máquinas após as beneficiar em várias eleições, onde dinheiro nunca foi problema para o ex-deputado estadual, federal, prefeito eleito e reeleito na Capital, e governador eleito e reeleito.
O medo de Puccinelli se justifica pelo histórico. Quando disputou as eleições majoritárias que venceu (para prefeitura da Capital e Governo), ele tinha apoio de alguma máquina, seja do Governo do Estado, ou da Prefeitura de Campo Grande, sempre comandadas pelo MDB.
Quando disputou, pela primeira vez, sem uma máquina, na última campanha para o Governo do Estado, acabou perdendo. Foi a segunda derrota de Puccinelli, que havia perdido apenas em 1982, quando debutava como candidato a prefeito em Fátima do Sul.
A falta de dinheiro foi, ao longo deste período de pré-campanha, a principal justificativa de Puccinelli para uma eventual desistência. Todavia, em uma entrevista no Município de Camapuã, ele chegou a dizer que poderia renunciar em troca de apoio do PSDB para a eleição de 2026, quando pretende disputar o Senado.
Se confirmada a desistência, o ex-governador pode iniciar novo mistério, pelo menos até a convenção, quando o partido decidirá quem apoiar. Há quem aposte que tudo não passaria de um jogo de cena para se manter no holofote e valorizar o passe, em uma eleição que promete ser disputada.