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Matéria jornalística sobre fatos, confirma juiz ao negar tentativa do PSDB de censurar notícias sobre contas sujas de Beto Pereira

Magistrado considerou que tentativa de Beto, 'que ainda não Ă© candidato a nada', Ă© uma 'atitude ditatorial'

Por Midia NAS em 31/07/2024 às 12:24:47
Beto Pereira consta em relação de políticos com contas reprovadas pelo TCE-MS e pode ficar inelegível (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

Beto Pereira consta em relação de políticos com contas reprovadas pelo TCE-MS e pode ficar inelegível (Ana Laura Menegat, Jornal Midiamax)

"Trata-se de divulgação de manchetes jornalĂ­sticas sobre fatos envolvendo pessoa pĂșblica na administração municipal de Terenos". Assim classificou o juiz David de Oliveira Gomes Filho, da 053ÂȘ Zona Eleitoral de Campo Grande, sobre pedido do PSDB para censurar as seguintes reportagens do Jornal Midiamax: "Beto Pereira foi condenado no TCE por rombo e gastos sem comprovação como prefeito de Terenos" e "Beto Pereira estĂĄ na lista do TCE de contas sujas".

O PSDB, comandado em MS pelo ex-governador Reinaldo Azambuja, entrou com representação eleitoral pedindo a remoção dos referidos conteĂșdos. O juiz jĂĄ havia negado liminarmente (provisoriamente atĂ© a sentença) o pedido.

Conforme a sentença, pessoas pĂșblicas como polĂ­ticos estão mais propensos a serem alvo de crĂ­ticas. "A propósito, o Sr. Beto Pereira ainda não Ă© candidato a nada", pontuou o magistrado. Isso porque atĂ© às 7h15 desta quarta-feira (31), não constava a candidatura tucana na plataforma DivulgaCand - oficial de divulgação de candidaturas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

"Atitude ditatorial" do PSDB

Ainda, o juiz considerou que a atitude de tentativa de censura soa como ditatorial. "A supressão da opinião alheia, nestes casos, Ă© atitude ditatorial que não se enquadra num Estado democrĂĄtico. O debate polĂ­tico passa pela livre avaliação dos eleitores a respeito dos candidatos (e prĂ©-candidatos), inclusive sobre aquelas que soem negativas àquela pessoa que "escolheu" ser uma pessoa pĂșblica".

Então, cravou que o Poder JudiciĂĄrio não deve compactuar com esse tipo de pensamento: "O Poder JudiciĂĄrio não deve compactuar com o sufocamento do pensamento alheio, enquanto manifestado de modo comedido. Com efeito, salvo exceções muito, mas muito bem fundamentadas, o Estado não pode impor censura, afrontando o campo da privacidade entre os interlocutores, sob pena de violar o direito".

Por fim, declarou que o pedido do PSDB não deve prosperar. "As questões de fato tratadas nesta representação não possuem viabilidade, na medida em que o provimento reclamado, para ser Ăștil ao requerente, exige o sacrifĂ­cio de direito fundamental à liberdade de expressão e o sacrifĂ­cio da estrutura democrĂĄtica do Estado".

Beto Pereira estĂĄ na lista de contas reprovadas e pode ficar inelegĂ­vel

O candidato do PSDB à prefeitura de Campo Grande, Beto Pereira, estĂĄ na lista do TCE-MS de polĂ­ticos com contas reprovadas com trânsito em julgado. A relação foi enviada ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de MS), que pode deixĂĄ-lo inelegĂ­vel para as eleições deste ano.

Conforme documentos pĂșblicos que podem ser consultados por qualquer cidadão no Portal TransparĂȘncia do TCE-MS, são trĂȘs processos que flagraram irregularidades na gestão de Beto Pereira quando administrou o municĂ­pio de Terenos, cidade que fica ao lado de Campo Grande e tem apenas 17 mil habitantes.

Em um deles, auditoria da Corte de Contas constatou rombo de mais de R$ 3,5 milhões nos cofres de Terenos, que tem orçamento de R$ 136 milhões nas contas da prefeitura.

AlĂ©m disso, a sĂ©rie de irregularidades deixadas por Beto quando foi prefeito de Terenos e flagradas somente em um dos trĂȘs processos no TCE-MS inclui falta de controle das receitas com tributos municipais, falta de documentos para comprovar gastos, a terceirização de compra de passagens e contratos desnecessĂĄrios.

Então, Beto Pereira conseguiu trĂȘs liminares, duas de conselheiros indicados por Reinaldo Azambuja, suspendendo os efeitos das condenações. Assim, pedido para anulĂĄ-los serĂĄ analisado ainda pela Corte.

DĂ­vida na Prefeitura de Terenos chamou atenção do TCE-MS

Um dos itens que mais chamou atenção dos tĂ©cnicos na inspeção foi a elevada dĂ­vida do municĂ­pio administrado pelo tucano. "O MunicĂ­pio estĂĄ com o estoque da dĂ­vida muito elevado - R$ 3.408.246,21", considerou o TCE-MS.

No entanto, para os conselheiros, a justificativa de que iria abrir programa de incentivo de regularização de dĂ©bitos seria o suficiente para aumentar as receitas.

PorĂ©m, Beto Pereira não justificou o porquĂȘ do valor estar tão elevado.

Outras irregularidades que se referem à boa saĂșde fiscal do municĂ­pio são:

  • ISS - ausĂȘncia de elaboração de regulamentação sobre o planejamento das atividades fiscais, estabelecer normas para a designação, execução e controle relacionados com os tributos municipais
  • Cosip - A contribuição para Custeio da Iluminação PĂșblica, instituĂ­da pela Lei 852/2003 e alterada pela lei nÂș 889/2004, nunca teve controle da arrecadação;
  • Controle Interno - Não houve a implementação do Controle Interno no municĂ­pio;
  • Programação Financeira e Cronograma de Execução Mensal - Não publicou a programação da execução financeira, dos orçamentos fiscal e da seguridade social, para o exercĂ­cio de 2012.
Beto Pereira deixou Terenos - com 17 mil habitantes - com rombo nas contas (Divulgação)

"Puxão de orelha" por gastar dinheiro sem necessidade

No referido processo, os conselheiros tambĂ©m entenderam que Beto Pereira contratou desnecessariamente a empresa ST Pesquisa de Mercado Ltda. AlĂ©m disso, não comprovou - mesmo após ser intimado pelo TCE-MS - os serviços prestados.

Para a realização do serviço sem comprovação, o TCE-MS responsabilizou Beto Pereira por mais um dano aos cofres municipais. Dessa vez, foi condenado a restituir R$ 6.750,00.

Ainda, levou um "puxão de orelha" do TCE-MS, uma vez que a medida fere o art. 37, inciso I da Constituição Federal, da impessoalidade e publicidade. "Sabe-se que, a administração pĂșblica pode se valer das audiĂȘncias pĂșblicas nos bairros ou nas próprias Câmaras para identificar as reais necessidades dos munĂ­cipes, o que Ă© bem pĂșblico".

Procurado pela reportagem para comentar as irregularidades apontadas pelo TCE-MS, não respondeu aos questionamentos atĂ© a publicação deste texto. A assessoria do prĂ©-candidato tambĂ©m não emitiu posicionamento sobre o processo. O espaço segue aberto para manifestação.

A assessoria de Beto Pereira emitiu nota sobre o processo TC/7791/2013, confira na Ă­ntegra: "Esse processo que cita estĂĄ suspenso por ter evidente nulidade absoluta, conforme divulgado pelo próprio Tribunal de Contas do Estado em seu DiĂĄrio Oficial. Portanto, não hĂĄ o que questionar. Disputei outras trĂȘs eleições após deixar a gestão municipal e nunca fui impedido de concorrer a nenhum pleito porque todas as contas da minha administração foram aprovadas."

Beto Pereira apelou para indicados por Reinaldo para "escapar" de ficar inelegĂ­vel

No Ășltimo dia 15, pouco antes do TCE-MS divulgar a lista dos polĂ­ticos com "contas sujas", Beto apelou para os conselheiros MĂĄrcio Monteiro (ex-secretĂĄrio de Fazenda de Reinaldo), FlĂĄvio Kayatt (ex-deputado estadual pelo PSDB) e Leandro Lobo Ribeiro Pimentel, que substitui Ronaldo Chadid. Eles "suspenderam" os efeitos das trĂȘs condenações com trânsito em julgado.

Beto Pereira ainda briga na Justiça para adiar pagamento de multa do TCE-MS

A PGE (Procuradoria-Geral do Estado) teve que ingressar com cobrança judicial (0901123-05.2017.8.12.0001), em 2017, para receber de Beto Pereira (PSDB) multa de R$ 12.816,37.

No decorrer do processo, a PGE chega a pedir penhora dos bens do prĂ©-candidato tucano para quitar o dĂ©bito. Em março de 2020, a Justiça mandou bloquear R$ 8.102,26 nas contas de Beto Pereira, mas só achou R$ 504,75.

No entanto, após o "puxão de orelha", Beto pediu para parcelar a dĂ­vida em prestações de R$ 675,19 e solicitou o desbloqueio das contas.

JuĂ­za indica que contas de Beto Pereira foram bloqueadas e pede à PGE lista de bens para penhora

Denunciado por improbidade junto com empreiteira

Ação de improbidade (0800636-83.2017.8.12.0047) do MPMS (MinistĂ©rio PĂșblico de Mato Grosso do Sul) denunciou Beto por irregularidades em contrato de 2011 com a VBC Engenharia. Segundo a investigação, houve superfaturamento em contrato para obra no centro de Terenos.

No entanto, no processo, o MPMS removeu Beto Pereira da ação após acordo com empreiteiro. O empresĂĄrio assumiu a responsabilidade das irregularidades e devolveu o dinheiro aos cofres pĂșblicos.

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