O país está polarizado. Nunca as pessoas mostraram tanto suas diferenças ideológicas como nos últimos anos. Mais especificamente, a partir de 2018, com a eleição de Bolsonaro. O debate saiu dos muros acadêmicos e foi para as mesas dos bares. O futebol, assunto preferido dos brasileiros, perdeu espaço para os confrontos políticos. Poucos conseguem, entretanto, explicar sua posição político-ideológica. Para tentar entender o que significa ser progressista ou conservador, temos de buscar no passado o nascedouro dessas ideias.
Um bom marco temporal seria retornar ao século 18, período das Revoluções Francesa e Americana. Foi nessa época que surgiram os primeiros sinais do que hoje denominamos de pensamento conservador e progressista. Há um livro que nos ajuda nessa pesquisa, "O grande debate", escrito por Yuval Levin. O autor apresenta os pontos divergentes entre essas duas personagens históricas. Mostra como surgiram os pensamentos conservador e progressista.
O conservadorismo de Edmund Burke
Edmund Burke é considerado o pai do conservadorismo moderno. Nasceu em 1729, em Dublin, na Irlanda, e faleceu aos 68 anos em Beaconsfield, na Inglaterra. Lutou pela liberdade da Irlanda e da Índia e, como deputado, se dedicou à defesa da autonomia das 13 colônias, núcleo ideário da concepção dos Estados Unidos. Talvez tenha sido um dos maiores críticos da Revolução Francesa. Não aceitava o processo de ruptura empreendido pelos franceses para formular uma nova ordem. A sua obra mais famosa é "Reflexões sobre a revolução francesa", que veio à luz em 1790. O primeiro-ministro inglês Winston Churchill afirmou que nesse livro estão os conceitos fundamentais para orientar o conservadorismo em qualquer época.
O pensamento de Burke apresenta as três bases essenciais para o entendimento do conservadorismo:
1 – Respeito às tradições – Advoga que os processos de mudança não poderiam abrir mão da experiência e do conhecimento acumulados pelas gerações anteriores. Não aceitava as rupturas radicais;
2 – Organicismo – Para o pensador irlandês, as questões coletivas devem prevalecer sobre os interesses individuais. Uma de suas frases esclarece essa sua posição sobre o tema: "O indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia";
3 – Ceticismo – Defende a necessidade do ceticismo político. Afirma que é preciso desconfiar do excesso de ideias, de teorias e dessa vontade desenfreada de impor princípios abstratos na realidade. O grande equívoco está na suposição de que, ao conceber teoricamente uma sociedade perfeita, esses conceitos poderiam ser aplicados na prática.
O progressismo de Thomas Paine
Thomas Paine é um dos Pais Fundadores dos Estados Unidos da América. Nasceu em 1737, em Thetford, na Inglaterra, e faleceu em 1809, em Nova Iorque. Durante algum tempo, relacionou-se muito bem, com Edmund Burke, e conversaram algumas vezes. Participou ativamente das duas revoluções, a francesa e a americana. Como liberal democrata, opôs-se veementemente às ideias de Burke. Foi defensor de um projeto de renda mínima para pessoas acima de 21 anos, independentemente da condição social ou econômica. Para conseguir os recursos necessários, defendia o imposto de renda sobre a herança.
Lutava para que o Estado garantisse a sobrevivência das pessoas. De acordo com suas teses, tendo o que comer, o que vestir e onde morar todos aproveitariam na plenitude a sua liberdade. Entre as causas que advogava estavam a liberdade econômica, a abolição da escravidão, os direitos individuais, o livre-cambismo e a propriedade privada.
O confronto de ideais
O confronto entre as posições defendidas por Burke e Paine estabeleceu-se em 1791, um ano após o lançamento da obra de Burke. Com a publicação do livro "O direito do homem", Paine refuta os principais princípios defendidos por aquele que se tornara o seu grande adversário intelectual. Defende a ideia de que os homens não são escravos das gerações passadas, como defendia Burke.
O historiador francês Pierre Manin mostrou a diferença mais destacada entre os dois pensadores. Afirma que Thomas Paine é um liberal mais à esquerda do que um liberal poderia ser, mantendo-se como liberal; e que Edmund Burke é um liberal mais à direita do que um liberal poderia ser, mantendo-se liberal.
Essas reflexões talvez não sejam suficientes para esclarecer as diferenças entre os conservadores e progressistas, mas lançam alguma luz para o tema, permitindo um entendimento e aprofundamento maior. E você, como tem se posicionado sobre essas questões? Consegue manter uma posição analítica, ou tende a defender uma ou outra ideologia? Siga pelo Instagram: @polito.