"A investigação confirmou que os assassinatos foram em decorrĂȘncia das atividades fiscalizatórias promovidas por Bruno Pereira na região. A vĂtima atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indĂgenas", diz nota.
Pereira e Phillips foram mortos a tiros em 5 de junho de 2022, em Atalaia do Norte, no Amazonas, quando visitavam comunidades próximas à Terra IndĂgena Vale do Javari, a segunda maior ĂĄrea do paĂs destinada ao usufruto exclusivo indĂgena e que abriga a maior concentração de povos isolados em todo o mundo.
No relatório final sobre a apuração, a PF manteve o indiciamento de nove investigados. Ou seja, o órgão ofereceu denĂșncia ao MinistĂ©rio PĂșblico Federal (MPF) de nove pessoas contra as quais assegura ter reunido provas suficientes para acusĂĄ-las de participar do duplo homicĂdio. O MPF pode pedir o arquivamento, caso entenda não haver elementos probatórios contra os investigados, ou denunciĂĄ-los à Justiça Federal, transformando-os em rĂ©us.
Entre os indiciados estĂĄ Ruben Dario da Silva Villar, apontado como mandante do crime. Sem citar nomes, a PF informou que os outros oito indiciados tiveram papĂ©is na execução dos homicĂdios e na ocultação dos cadĂĄveres das vĂtimas.
A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa de Villar, que jĂĄ tinha sido indiciado pelo mesmo motivo em janeiro de 2023, quando a PF divulgou que tinha identificado [] a maioria das pessoas envolvidas no assassinato.
"Temos provas de que ele [Colômbia] fornecia munições para o Jefferson e o Amarildo, as mesmas encontradas no caso", disse, na Ă©poca, o então superintendente regional da PF no Amazonas, Alexandre Fontes, afirmando que Villar tambĂ©m pagou as despesas iniciais com a defesa de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, primeiro suspeito a ser preso, em 7 de junho de 2022.
Interesses contrariados
Colaborador de publicações jornalĂsticas prestigiadas, como os jornais britânico The Guardian e os estado-unidenses The New York Times e Washington Post, Dom Phillips, 57 anos, viajou à região com o propósito de entrevistar lideranças indĂgenas e ribeirinhos para um novo livro-reportagem sobre a Amazônia que planejava escrever.
Embora falasse portuguĂȘs fluentemente e jĂĄ tivesse visitado a região outras vezes, Phillips viajava na companhia de Pereira por este ser um experiente indigenista Pereira. Com 41 anos de idade, estava licenciado da Fundação Nacional dos Povos IndĂgenas (Funai) desde fevereiro de 2020, por questões polĂticas, e atuava como consultor tĂ©cnico da organização não governamental União dos Povos IndĂgenas do Vale do Javari (Univaja).
Os agentes da PF responsĂĄveis pela apuração do crime concluĂram que Pereira e Phillips foram mortos em decorrĂȘncia do trabalho do indigenista. Mesmo licenciado da Funai, Pereira continuou contrariando interesses de grupos que ameaçam o bem-estar e a integridade de parte da população local. Na Univaja, auxiliava na implementação de projetos para permitir às comunidades tradicionais proteger seus territórios e os recursos naturais neles existentes.
"A vĂtima atuava em defesa da preservação ambiental e na garantia dos direitos indĂgenas", destacou a PF, na nota que divulgou hoje - e na qual reforça que segue monitorando os riscos aos habitantes da região do Vale do Javari e que continua investigando ameaças contra indĂgenas que vivem na mesma região onde Pereira e Phillips foram mortos.