Será que a geração Z perdeu mesmo o jeito para falar e escrever?

Você tem gente jovem na família? Está intrigado com o jeito de eles se comunicarem? Acha que essa maneira de se expressar pode comprometer a carreira, o desenvolvimento e o futuro profissional deles? Este texto é para você refletir e, quem sabe, dissipar um pouco essas preocupações.

Será que a geração Z perdeu mesmo o jeito para falar e escrever?

Você tem gente jovem na família? Está intrigado com o jeito de eles se comunicarem? Acha que essa maneira de se expressar pode comprometer a carreira, o desenvolvimento e o futuro profissional deles? Este texto é para você refletir e, quem sabe, dissipar um pouco essas preocupações.

Fim de férias. 1960. Volta às aulas. Primeiro dia entre a tristeza do retorno e a alegria do reencontro com os amiguinhos, especialmente a turma do fundão, sempre mais animada. E, para surpresa de ninguém, a redação proposta pela professora: "Minhas férias".

Entrava ano, saía ano e a história se repetia. Não era falta de criatividade da mestra, com certeza, não. O que não faltava naquelas jovens senhoras era inspiração para as suas aulas. Talvez o objetivo fosse o de nos conscientizarmos a respeito do que havíamos feito, mesmo, às vezes, não tendo feito nada.

Escrevendo com pouco a dizer

A maioria era de família remediada para baixo e raramente saía da cidade onde nasceu. Portanto, as férias eram a repetição do que faziam já no dia a dia. Com a diferença de não ter tarefa, nem compromisso com horário de levantar-se e ir para a escola. E muitos falavam exatamente isso em seus textos.

Havia, entretanto, aqueles que viajavam para uma cidade próxima, quase fronteiriça. Ali se engraçavam com alguém. Por esse motivo, de vez em quando enviavam e recebiam cartinhas. Essas correspondências já indicavam um esforço rudimentar de expressão escrita, embora esporádico.

Será que a escrita está mesmo pior?

Compartilhei essa experiência pessoal para contrapor pesquisas recentes afirmando que parte dos jovens da geração Z não sabe se expressar. A notícia divulgada por um dos principais jornais da Turquia, Türkye Today, afirma que as pessoas nascidas entre o final da década de 1990 e início de 2010 cresceram com um teclado nos dedos, por isso, perderam a habilidade para escrever à mão.

Apesar de certos avanços na formação dos jovens, ficou essa lacuna na maneira de se comunicar. Sua escrita garranchosa se assemelha à de quem só frequentou alguns meses de escola.

Entre redes sociais e escrita manual

Os dados são curiosos. Uma pesquisa realizada na Noruega e divulgada pela Universidade de Stavanger, constatou que 40% dos alunos testados, depois de se dedicar apenas à escrita digital, em apenas um ano perderam a desenvoltura com a escrita manual.

A causa dessa deterioração é, em muitos casos, o uso compulsivo das redes sociais. Na maioria das vezes, escrevem com frases concisas e palavras abreviadas. Outro dado significativo são textos sem coesão e estrutura lógica.

Mudaram os tempos, mudaram os jovens

Essa é uma verdade que precisa ser observada com cuidado e a partir de suas diversas facetas. Será que alguém das gerações anteriores, que hoje está acima dos 50/60 anos, consegue dizer que na idade desses jovens tinham mais conhecimento, desembaraço e sabedoria?

Vejo por mim. Tenho netas de todas as idades. Quando me lembro de como eu era na época em que estava com a idade delas, sinto-me um tolo. O acesso às informações era limitado. Hoje, está tudo na ponta dos dedos. Quanto tempo pode ser economizado!

Escrevendo no dia a dia

Nos dias atuais, diferentemente do que ocorria na época saudosa de "Minhas Férias", os jovens fazem várias redações por dia. Estão o tempo todo mandando mensagens para os amigos. E precisam se fazer entender, caso contrário a comunicação não se completa.

Assim, conseguem transmitir ideias completas com começo, meio e fim. E com a competência cada vez mais exigida no momento em que vivemos – com objetividade. Essa habilidade de falar tudo em poucas palavras. Depois, com a prática do dia a dia, podem aperfeiçoar, corrigir os erros, evitar os equívocos e, se for preciso, até expandir mais os textos.

É só dar tempo ao tempo

Vejo também em sala de aula. Eu aceitava alunos no curso de oratória apenas a partir dos 17 anos, idade que permitia desenvolver temas com maior profundidade. Com o tempo essa idade foi sendo reduzida. Hoje, recebo jovens de 13/14 anos que se comportam maravilhosamente bem na tribuna. Bonito de ver. Emocionante até.

Portanto, não devemos avaliar com tanta preocupação esse fenômeno da geração Z com relação às redações e até à expressão verbal. No fim, em cada período as pessoas encontram sua maneira de se comunicar e de atender às demandas do mundo. Como esses jovens diriam: espero q vc tb tenha um ótimo AN. Siga pelo Instagram: @polito.