Nas investigações das denĂșncias de assédio sexual contra o candidato ao Governo de Mato Grosso do Sul Marquinhos Trad (PSD), prints revelam o que seria uma 'troca de favores'.
Uma eleitora pede transferĂȘncia da tia, internada em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e recebe do então deputado estadual o pedido de "nudes" que parece saĂdo de um conto erótico.
Segundo mulheres que acompanham os trabalhos de investigação, é difĂcil conter a indignação com o perfil de predador sexual que se constrói ao longo da apuração.
"Pode falar o que quiser. Que surgiu no momento eleitoral, que estimularam vĂtimas... Mas, se não houvesse fogo, não apareceria a fumaça. Esse homem é perigoso com poder e os relatos, desde os mais antigos, até os de agora, reforçam esse perfil de predador que se beneficiava da posição", avalia.
"Pedir foto pelada de uma mulher em flagrante situação de vulnerabilidade, pedindo vaga hospitalar pra salvar a tia, e com o grau de baixaria que os prints revelam, embrulha o estômago de qualquer um que tenha o mĂnimo de humanidade", afirma.
"O cara fala de Deus e logo em seguida pede para moça expor a genitĂĄlia e fotografar pra ele. É insano. JĂĄ muita coisa ruim na carreira, mas um homem pĂșblico se expor neste grau de certeza da impunidade, nunca", diz a profissional, que hĂĄ 13 anos atua atendendo justamente mulheres vĂtimas de todos os tipos de abuso em Campo Grande.
Conforme apurou o Jornal Midiamax, o caso que indignou até a experiente profissional chegou até a PolĂcia Civil quando uma mulher descobriu que alguém estava usando fotos dela em perfis falsos nas redes sociais. Conforme descoberto, quem usava as fotos teria sido a mulher que pedia ajuda ao então deputado.
A conversa começa quando a mulher chama Marquinhos Trad e diz que a tia estĂĄ internada na UPA, após sofrer um infarto. Ele pede o nome e ela afirma que recebeu o contato de uma amiga e que o deputado poderia ajudar. Assim, a mulher consegue uma vaga no hospital e agradece Marquinhos e uma assessora que a ajudou.
A mulher então volta a falar com o candidato, pedindo que uma pessoa fique de acompanhante com a tia, hospitalizada, e consegue a autorização por meio da assessora de Marquinhos. "Quem é vocĂȘ?", pergunta, ao que a mulher responde e ele então diz: "Manda foto sua".
Então, a mulher envia fotos, que a princĂpio conforme apurado pelo Midiamax não seriam dela.
Ela pede uma foto de Marquinhos, que envia uma "selfie". A mulher agradece ao deputado, diz que tudo deu certo com a tia e a conversa continua, quando ele pede "Fotos mais ousadas". E ela rebate "Manda uma sua" e manda.
"Como quer uma foto minha?", pergunta a mulher. "Como tiver vontade. Seja atrevidinha", responde o deputado. A mulher não envia a foto, volta a conversar com Marquinhos, que diz: "E a foto". Ela pergunta como ele quer a foto, "nua ou de biquĂni" e ele responde "Nua". No entanto, a mulher envia uma foto de biquĂni, com o rosto cortado.
A princĂpio, sabendo das intenções do deputado, a mulher estaria enviando fotos que não eram dela. Isso, porque precisava da vaga e da assistĂȘncia para a tia, que estava internada. Ela novamente pede uma foto de Marquinhos, que envia uma selfie. "Agora manda com seu rosto", diz o deputado, que recebe uma foto da mulher com um menino, dizendo ser o filho dela.
"Não era essa foto e vocĂȘ sabe", rebate o deputado. "Não promete o que não irĂĄ cumprir", diz em outro trecho da conversa, ao que a mulher encaminha uma foto Ăntima e pede que ele apague. "Nem deu pra ver direito. Tira de frente. Abre ela com os dedinhos", diz Marquinhos. Ele também pede: "Se der vai lĂĄ na Assembleia me visitar".
A mulher então envia outra foto e recebe a resposta: "Quero mais picante. Faz vĂdeo. Promete ir lĂĄ na segunda-feira", se referindo à "visita" na assembleia. A mulher então diz que não recebeu nenhuma foto dele e recebe um "nude" de Marquinhos, que depois diz "Apaga".
Material de campanha dos candidatos a deputado estadual Pedro Pedrossian Neto, do vereador OtĂĄvio Trad e a governador de Mato Grosso do Sul, Marquinhos Trad, todos do PSD, foi apreendido na casa de prostituição do ex-servidor da prefeitura, preso em 31 de agosto. Ele foi detido durante as investigações de assédio sexual contra Marquinhos Trad e essa poderia ser a ligação entre os dois acusados.
Conforme dados dos laudos periciais a que o Midiamax teve acesso, na casa de prostituição do ex-servidor da prefeitura, que jĂĄ se tornou réu pelas acusações, foram encontrados materiais de campanha dos trĂȘs candidatos. São "santinhos" e adesivos, encontrados em meio a camisinhas que foram encontradas e também apreendidas no local.
Ainda de acordo com o documento, havia 5 pessoas no local no momento do cumprimento de mandado. Foi apurado pela PolĂcia Civil que ali residiam o réu (ex-servidor) e também as garotas de programa. Ele foi preso no dia, mediante cumprimento de mandado de prisão preventiva, e responde por coação no curso do processo, corrupção ativa de testemunha e favorecimento à prostituição.
Ao Midiamax, o candidato Pedro Pedrossian Neto questionou quem seria o réu, alegando desconhecer o dono do prostĂbulo, e também que não saberia o motivo pelo qual o material de campanha estaria na casa de prostituição.
Em nota enviada ao Midiamax, a defesa do candidato do PSD ao governo de Mato Grosso do Sul, Marquinhos Trad, afirma que "ele não pode ser responsabilizado por eventuais crimes que seus eleitores ou apoiadores venham a praticar".
O jornal também tentou contato com OtĂĄvio Trad, que não atendeu à ligação. O espaço segue aberto para manifestações.
Na Ășltima quinta-feira (22) o ex-servidor da Prefeitura de Campo Grande preso preventivamente durante as investigações de assédio sexual que implicam o candidato ao Governo Marquinhos Trad (PSD) se tornou réu. Ele é acusado de levar vĂtimas e testemunhas até um cartório de Campo Grande, as coagindo a mudar os depoimentos.
Conforme apurado pelo Jornal Midiamax, o ex-servidor foi indiciado pelo MPMS (Ministério PĂșbico de Mato Grosso do Sul) menos de uma semana antes. JĂĄ na quinta, a juĂza Eucélia Moreira Cassal, da 3ÂȘ Vara Criminal, recebeu a denĂșncia, tornando réu o acusado pelos crimes de coação no curso do processo, corrupção ativa de testemunhas e favorecimento à prostituição.
O ex-funcionĂĄrio do municĂpio foi preso no dia 31 de agosto, após o cumprimento de mandados pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Segundo a PolĂcia Civil, o ex-servidor foi indiciado no mesmo dia da prisão. Ele permaneceu em silĂȘncio no interrogatório.
O ex-servidor é acusado de coagir testemunha a "voltar atrĂĄs" em depoimento prestado no inquérito que investiga as denĂșncias de assédio sexual. Ele teria procurado uma das testemunhas ouvidas no caso e a convencido a "desmentir" o depoimento prestado. Assim, ela teria sido levada a um cartório, onde documento foi assinado, relatando o contrĂĄrio do que tinha sido dito anteriormente à polĂcia.
O fato se assemelha ao da adolescente, ex-mirim, que também "desistiu" de denĂșncia por assédio contra o ex-prefeito. O caso foi denunciado inicialmente em 2018 e noticiado após os outros relatos de assédio virem à tona, em julho deste ano. A jovem chegou a afirmar que tinha documento assinado em cartório relatando que o assédio não teria acontecido.
No dia da prisão, equipes da Deam também cumpriram mandados de busca e apreensão na casa e também em um "estabelecimento" do réu, onde funcionaria a casa de prostituição. Foram apreendidos material de campanha dos trĂȘs candidatos. Outros objetos como celulares foram apreendidos pela polĂcia.
Além da casa de prostituição, o homem também é apontado como dono de um site, usado para favorecimento à prostituição.
Marquinhos Trad foi intimado para prestar um primeiro depoimento na Deam na Ășltima quarta-feira (21), mas não compareceu. Ao invés disso, momentos antes do horĂĄrio marcado – 14 horas – a defesa apresentou documento em que solicitava o adiamento, para data posterior à eleição.
JĂĄ no dia seguinte, quinta-feira (22), o candidato foi intimado novamente pela PolĂcia Civil em Dourados, onde cumpria agenda fazendo uma caminhada, em campanha eleitoral. Ele mais uma vez se negou a prestar depoimento, alegando que estĂĄ com agenda cheia e que só poderĂĄ comparecer após o dia 2 de outubro.
Ainda na sexta-feira (23), decisão judicial concedeu habeas corpus ao candidato, para que não fosse obrigado a comparecer na Deam. Isso, embora jĂĄ tivesse sido intimado duas vezes e o não comparecimento implicasse crime de desobediĂȘncia, sujeito à condução coercitiva.
O TRE rejeitou a tentativa de censura do candidato Marquinhos Trad contra o Jornal Midiamax. A defesa de Marquinhos foi à Justiça para remover a reportagem "VĂDEO flagrou ex-servidor preso por coação com suposta vĂtima de Marquinhos em cartório", publicada no dia 14 de setembro.
Na petição, os advogados do ex-prefeito de Campo Grande acusam o jornal de publicar "matéria sensacionalista e sabidamente inverĂdica". Vale ressaltar que o Jornal Midiamax sempre se limita a noticiar reportagens devidamente apuradas, elaboradas por jornalistas profissionais.
Neste caso, a reportagem foi construĂda com base em laudo policial oficial a que o Midiamax teve acesso. Além do documento, a reportagem também teve acesso a vĂdeos de câmera de segurança, na Ăntegra, sem edições ou cortes, que revelaram a movimentação no cartório no mesmo dia em que o ex-servidor investigado por coação levou a testemunha para assinar desistĂȘncia de seu depoimento dado à PolĂcia Civil.
Naquele mesmo dia, em julho, a testemunha registrou documento que oficializava a decisão dela de "voltar atrĂĄs" e mudar a versão do depoimento dado à PolĂcia Civil. No depoimento inicial, a mulher relatou ter sido vĂtima de assédio supostamente cometido por Marquinhos.
A defesa do candidato alega que "o vĂdeo é todo borrado e sem ĂĄudio, e a Ășnica coisa que se percebe é se tratar de um local com imagens de pessoas circulando, em pé e/ou sentadas". O Midiamax esclarece que possui o material bruto, de uma câmera de segurança. O vĂdeo publicado na reportagem foi editado para proteger a identidade das eventuais vĂtima e pessoas que aparecem nas imagens e que não tĂȘm relação com o caso.
"Toda a narrativa construĂda na matéria é engendrada para dar credibilidade ao vĂdeo, porém, é impossĂvel identificar um ponto sequer dos fatos narrados. Portanto, o vĂdeo claramente foi criado para dar sustentação à matéria criada para atacar e ofender a honra do candidato Marcos Trad, uma verdadeira fake news", sustenta a defesa do candidato ao Governo, que não conseguiu convencer a Justiça.
Por fim, os advogados pediram a remoção da reportagem e da publicação na pĂĄgina do Facebook do jornal, além de proibir o Midiamax de relatar qualquer desdobramento do vĂdeo, inclusive no WhatsApp.
Em sua decisão, o juiz substituto do TRE, José Eduardo Chemin Cury, observa que a Constituição Federal garante a liberdade de expressão e a Resolução TSE 23.610/2019 visa apenas tirar de circulação notĂcias comprovadamente falsas.
"Ressalte-se que os cidadãos tĂȘm o direito de obterem informações acerca dos candidatos, sejam positivas ou negativas, sendo este um dos pilares do regime democrĂĄtico e da sadia disputa polĂtica", escreveu.
Cury prossegue destacando que a Constituição ainda prevĂȘ o direito da liberdade de imprensa e que nenhum direito constitucional é absoluto. O magistrado não viu qualquer transgressão por parte do Midiamax.
"O exame da matéria impugnada indica que, embora desfavorĂĄvel à imagem do candidato, seu conteĂșdo não traz elementos suficientes à configuração de qualquer transgressão comunicativa, uma vez que não se depara com inverdade inconteste e patente, mas mera interpretação e narração de fatos, amparadas por vĂdeo, ao qual os jornalistas, eventualmente, tiveram acesso", pontuou.
O juiz do TRE frisa ainda "que as lacunas e contradições que, nos termos da inicial, existiriam na reportagem tem amparo na interpretação da própria representante, vindo desacompanhada de elementos adicionais que corroborem sua tese", ou seja, a defesa de Trad não comprovou danos à sua imagem ou qualquer violação da legislação brasileira pelo jornal.
"Ante o exposto, ausentes os requisitos necessĂĄrios, indefiro o pedido de tutela de urgĂȘncia e determino o regular processamento do feito", concluiu Cury, que deu prazo para que o advogado do Midiamax e a Procuradoria Regional Eleitoral do MPF (Ministério PĂșblico Eleitoral) se manifestem.
Pelas imagens gravadas no dia 25 de julho deste ano é possĂvel ver quando o ex-servidor chega ao cartório em um veĂculo HB20. No banco do passageiro estava uma mulher - a vĂtima que foi levada ao cartório. Eles descem do carro e se juntam a mais duas pessoas, um homem e uma mulher, que não foram identificados.
Os quatro entram no cartório e a vĂtima aparece apreensiva, sempre levando as mãos na boca. Na sequĂȘncia, os quatro sentam em um dos sofĂĄs da espera do local e algum tempo depois chega uma outra mulher, que é advogada, para auxiliar os trâmites da declaração que serĂĄ registrada no cartório.
Em outro momento, todos se reĂșnem em uma sala que não é monitorada por câmeras. O horĂĄrio, segundo as imagens, é por volta das 16h52 do dia 25 de julho. Todos sentam no sofĂĄ e a vĂtima aparenta apreensão com a situação. O ex-servidor, que estĂĄ em outro canto do cartório, passa pela jovem e a encara, a vĂtima leva as mãos ao rosto e aparenta chorar.
A mulher, que não foi identificada e estava junto com o grupo, senta ao lado da vĂtima tentando acalmĂĄ-la. A vĂtima enxuga as lĂĄgrimas e demonstra mais uma vez apreensão, jĂĄ que o ex-servidor passa novamente por ela a encarando. JĂĄ por volta das 17h55, todos deixam o cartório e a advogada sai com uma pasta contendo a documentação.
Na garagem, a vĂtima é "escoltada" pelo ex-servidor até o carro dele. Ela vai embora junto com ele, no banco traseiro do HB20.
Duas vĂtimas relataram que no dia 18 de julho de 2022 foram procuradas pelo ex-servidor. Ele disse que tinha um 'negócio' bom para elas e que envolvia dinheiro, mas precisava falar pessoalmente em seu lava-jato. No dia 22, eles se encontraram e ele mandou que as mulheres desligassem os celulares e deixassem as bolsas para fora do escritório.
Durante a conversa, o ex-servidor falou para as vĂtimas "deixarem para lĂĄ" a denĂșncia, jĂĄ que tinham famĂlia, amigos e filhos e que a investigação demoraria dois anos no mĂnimo, não daria em nada e ainda exporia a imagem delas. Ainda segundo as mulheres, a conversa do ex-servidor era intimidadora.
Marquinhos Trad alegou na época das denĂșncias, que tudo seria parte de uma 'armação polĂtica' para prejudicar a candidatura dele a governador de Mato Grosso do Sul após uma discussão por WhatsApp com o secretĂĄrio de estado de Segurança, Carlos Videira.
O candidato admitiu que cometeu adultério com ao menos duas das denunciantes enquanto era prefeito de Campo Grande, mas negou os crimes sexuais. JĂĄ em 2018, uma denĂșncia envolvendo suposto assédio contra uma menor aprendiz da Prefeitura chegou ao conhecimento da PolĂcia Civil.
Na época, o caso acabou arquivado e a jovem, conforme apurou o Jornal Midiamax, ganhou um cargo sem concurso pĂșblico no gabinete da Prefeitura de Campo Grande.
Após o primeiro registro feito por uma das vĂtimas, na Corregedoria da PolĂcia Civil, outras mulheres procuraram a Deam para fazer denĂșncias de assédio. Em coletiva no dia 26 de julho, a delegada do caso, MaĂra Pacheco, afirmou que a informação de suposto pagamento feito às mulheres para registrarem denĂșncias não consta no inquérito.
No entanto, conforme a delegada, tudo seria investigado e caso seja provado que as mulheres tenham recebido dinheiro, elas podem responder por falso testemunho. O crime tem pena de 2 a 4 anos, além de multa.
"Mas, não diminui outras denĂșncias das outras vĂtimas que procuraram a delegacia", disse MaĂra Pacheco. Ainda segundo a delegada, sobre as denĂșncias de assédio sexual, em "crimes como esse, a Ășnica materialidade são os relatos das vĂtimas. Temos de ter respeito em um paĂs patriarcal".
Na época, a delegada ainda explicou que outras pessoas estavam sendo investigadas, mas não revelou por quais crimes e nem a quantidade de suspeitos.
Fonte: Midiamax