Nesta quarta-feira, em agenda no Uruguai, Lula chamou Michel Temer de “golpista”. Esqueceu-se de que tem como ministra a também “golpista” Simone Tebet, que quando senadora votou pelo impeachment de Dilma.
Esqueceu-se de que tem como vice Geraldo Alckmin, também apoiador do afastamento da petista. Aliás: o próprio PSB, partido de Alckmin, foi favorável ao afastamento de Dilma. Há, por sinal, uma lista de políticos e partidos que apoiaram o impeachment e hoje integram o governo.
Lula parece ter esquecido, ainda, que a retórica belicosa foi fundamental para o esvaziamento de Bolsonaro, tanto no campo eleitoral quanto para dentro da classe política.
A própria eleição foi um exemplo disso: Lula venceu ao encabeçar uma frente ampla para derrotar Bolsonaro. Uma frente repleta de “golpistas”.
Aceitar na campanha o apoio de defensores do impeachment para, eleito, criticá-los é tapar os olhos para a atual composição do Congresso. Partidos de centro, como o MDB de Tebet, serão decisivos para a governabilidade.
Lula pode pensar que Dilma foi alvo de um golpe? Claro. Pode verbalizar isso com menos de um mês à frente do país? Sim. Mas é um grave erro.
Há outros exemplos da falta de cuidado de Lula com as palavras. O presidente subiu o tom contra Forças Armadas ao dizer que elas “não são o poder moderador que pensam que são”. Generalizada, do jeito que ficou, a frase em nada contribuiu para a melhora na relação de Lula com militares.
Há uma semana, em discurso para reitores no Planalto, Lula chamou Bolsonaro de “o coisa”. E associou o ex-presidente, que recebeu 58 milhões de votos, a “uma extrema direita fanática raivosa”.
O que se vê até o momento, no recém-iniciado governo, é o Lula da campanha de 2022. Não aquele que “pacificaria o país”. Bolsonaro tampouco desceu do palanque após assumir. Deu no que deu. O petista, contudo, ainda tem tempo para ajustar o discurso.
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