Na nova legislatura, que começou na última quarta-feira, o número de fiéis na Câmara dos Deputados aumentou de 91 para 98. Metade deles, 49, é aliada de Bolsonaro, enquanto dez apoiam Lula. Outros 20 mantiveram-se neutros durante a disputa eleitoral do ano passado, e 19 distanciam-se, cada vez mais, do bolsonarismo e acenam para a nova gestão, conforme levantamento feito pelo GLOBO.
Em um aceno ao segmento, o governo avalia criar uma subsecretaria voltada para os evangélicos, com a atribuição de abrir diálogo com as igrejas. O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, com histórico de atuação na Assembleia de Deus, chegou a se reunir com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, no mês passado, para tratar do assunto.
Distribuição da bancada evangélica na legislatura de 2023-2027 no Congresso — Foto: Editoria de Arte
No Congresso, entre os 19,3% dos parlamentares evangélicos que já foram defensores de Bolsonaro, mas agora se afastaram, está Otoni de Paula (MDB-RJ), pastor da Assembleia de Deus de Madureira. Ele, que no passado chegou a ser investigado por atos antidemocráticos, tenta se aproximar de Lula. O deputado compareceu a posses de ministros e criticou o silêncio de Bolsonaro após as eleições:— Beira a covardia — disse à época.
Outros nomes que se engajaram na campanha de Bolsonaro, como Silas Câmara (Republicanos-AM), também têm buscado sinalizar, embora com menos intensidade, abertura para diálogo com o novo governo. Da Assembleia de Deus do Norte, Silas foi quem convidou Bolsonaro para a edição amazonense do evento Marcha para Jesus. Aos poucos, ele ensaia uma aproximação com o PT. No último dia 17, esteve com o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes.
Na bancada evangélica, há ainda 19 deputados mapeados pelo GLOBO que nunca foram alinhados ao bolsonarismo. Entre os neutros, destaca-se Kim Kataguiri (União-SP), da Igreja Anglicana. Ao longo de todo o antigo governo, o parlamentar foi crítico de Bolsonaro e agora repete o movimento com Lula.
Metade da frente evangélica, por sua vez, se mantém alinhada com Bolsonaro. Nesse grupo está o atual líder da frente parlamentar e segundo vice-presidente da Câmara, Sóstenes Cavalcante.
— Ser oposição ou base não passa pela bancada evangélica. Somos ideológicos, temos nossas pautas cristãs, o que faz com que entremos em conflito com o governo Lula. No entanto, cada parlamentar tem um partido e pode vir a ter diálogo com o governo, mas tenho certeza que, caso o presidente atente sobre valores de nossa religião, todos irão se posicionar contra e ser resistência — afirmou.
Apesar de serem minoria na bancada e dentro das igrejas, 10 dos 98 parlamentares sempre estiveram ao lado de Lula e, inclusive, fizeram campanha para ele durante as eleições do ano passado. O caso mais conhecido é o da deputada Benedita da Silva (PT-RJ). Ela pertence à Igreja Presbiteriana do Brasil.
Menos atuante em questões religiosas na Câmara, outro membro da tropa de choque de Lula que integra a bancada evangélica é André Janones (Avante-MG). Um dos principais estrategistas digitais do petista na campanha eleitoral, ele é da Igreja Batista da Lagoinha.
Assim como na população brasileira, a Assembleia de Deus lidera a representatividade na bancada no Congresso, com 31,6% dos quadros. De acordo com o Datafolha, 34% dos evangélicos do país são dessa denominação.
Outras duas igrejas que se destacam na bancada evangélica são a Universal (20,4%) e a Batista (15,3%). Esta última foi a que mais cresceu em comparação com o mandato anterior. Em 2018, foram eleitos dez batistas, número que saltou para 15.