Uma reformulação foi feita no conceito e no acervo da mostra de longa duração que já existia no espaço há 16 anos. Agora, ela está dividida em dois eixos temáticos – Arqueologia e Povos originários –, que se conectam a partir de objetos etnográficos antigos e obras de artistas contemporâneos.
“Essa foi a primeira vez que o museu adquiriu um acervo dos povos originários a partir de uma conversa sobre que discursos eles queriam transmitir no museu. Não houve intermediação com um colecionador ou nada do gênero. Por exemplo, os integrantes do povo Kanindé escolheram o que é de representativo para estar aqui, qual a mensagem que eles querem passar.”
A colaboração foi importante para que os indígenas atuassem como protagonistas do processo de construção da própria memória. Uma das envolvidas foi Antônia Kanindé. Ela é graduada em Museologia e cursa mestrado em Antropologia. Ser uma voz ativa na elaboração do acervo ajudou a romper com imagens e discursos tradicionais.
“A nossa narrativa sempre foi traçada a partir de um lugar onde nós éramos os outros, sempre distantes. Trazer indígenas para um processo colaborativo de indicar objetos e articular discursos da exposição, apresentar textos narrativos sobre o acervo e a historicidade desses povos, é pensar um novo lugar para o museu. Um lugar que colabora e, ao mesmo tempo, inclui os povos indígenas na sua narrativa. Então, há agora uma perspectiva do 'eu'. Não é mais o museu falando sobre os indígenas. São os próprios indígenas que ocupam o espaço do museu e trazem suas narrativas”, explicou.
Um dos curadores da exposição, o pesquisador André Amud Botelho disse que a participação dos povos indígenas trouxe aprendizados importantes para toda a equipe.
“O que vemos aqui é a mensagem de que o museu não é só um lugar de objetos, mas um lugar de processos. Sejam eles educacionais, reflexivos, de afirmação. Queremos uma exposição que permita sempre incluir novos objetos e ser um lugar aberto a esses debates. Esse é o espírito dos povos originários que estamos tentando reproduzir aqui”, afirmou Botelho.
Dos vestígios mais antigos, a principal obra da exposição é o tacape (arma de madeira), que pertenceu ao líder indígena Tibiriçá, do povo Tupiniquim, no século XVI. O objeto é parte do acervo do museu desde 1924. Das peças mais recentes, há um colar doado pelos Yawanawá, utilizado em rituais contemporâneos. O desenho dele segue formas que representam visões e miragens dos indígenas durante as cerimônias de celebração. Entre os artistas contemporâneos, há obras de Denilson Baniwa, Diakara Desana, Mayra Karvalho e Tapixi Guajajara.
Em um outro espaço pensado para debater lutas atuais, estão objetos do povo Yanomami. Uma aljava com pontas de flecha e uma tanga são acompanhadas de um texto que relembra a invasão de terras por garimpeiros, os ataques às aldeias e plantações, a poluição dos rios e os assassinatos de indígenas. Mais do que apresentar elementos estáticos, é permitir uma reflexão ampla dos significados históricos e sociais que eles representam.
O texto sobre a exposição termina com um convite à resistência coletiva: “Que todos, indígenas e não indígenas, nos indignemos e exijamos a garantia dos direitos dos Yanomami e dos outros povos indígenas no Brasil”.
Museu Histórico Nacional
Endereço: Praça Marechal Âncora, S/N, Centro – Rio
Exposição de longa duração
De quarta a sexta, das 10h às 17h. Sábado e domingo, das 13h às 17h
Entrada franca
Patrocínio: Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura
Apoio: Associação dos Amigos do MHN