Na produção, dez drag queens brigam por uma bagatela de R$ 150 mil. Além de batalhas de cantoria e de dança, clássicas em reality shows do tipo, as artistas precisam competir também em desafios, digamos, mais brasileiros.
No combate que abre o primeiro episódio, as drags são levadas para jogar futebol no Rio de Janeiro, com maquiagem, uniforme de time, peruca e em cima de saltos altos. No segundo capítulo, elas viajam para Goiânia, referência no sertanejo, onde disputam quem compõe a melhor canção de "queernejo", uma vertente LGBTQIA+ do gênero.
Levá-las a um tour Brasil afora com competições inspiradas em símbolos regionais foi o jeito que o Prime Video encontrou de tentar fazer a série se destacar entre a enxurrada de reality shows com drag queens que surgiu nos últimos anos.
Ainda assim, é inevitável notar que o Caravana segue os moldes de RuPaul's Drag Race, programa pioneiro do gênero lançado em 2009 nos Estados Unidos. Houve boatos, aliás, de que Xuxa apresentaria uma versão brasileira deste reality americano em 2021.
Ela conta que, à época, tinha acabado de assinar contrato para apresentar o Caravana. "Quando veio a proposta, me mostraram como eu ficaria vestida de drag e eu pirei. Fiquei louca", diz em entrevista por videoconferência.
Xuxa diz que hoje se sente lisonjeada em dar voz à comunidade LGBTQIA+ mesmo sem fazer parte dela. "Já fui convidada algumas vezes para ser coroada como, sei lá, rainha do dos gays. Eu falava 'calma, deixa sair o nosso Caravana das Drags', porque daí vou estar no lugar certo e entendendo do assunto."
Ela sabia que seria criticada. Uma discussão se alastrou pelas redes sociais quando seu nome foi anunciado para o suposto RuPaul's Drag Race brasileiro. Alguns afirmaram que o certo era escalar uma drag. Outros disseram que a visibilidade trazida por alguém do tamanho de Xuxa beneficiaria o programa.
A apresentadora concorda. "Acho que meu nome e minha imagem vão somar. Por que uma pessoa como eu nisso? Porque levo a curiosidade de alguém que está entrando neste mundo, o respeito pela arte drag e um pouquinho de frescor."
Não é de hoje que Xuxa demonstra apoio à comunidade LGBTQIA+. Em 2016, na turnê de shows "XuChá: O Chá da Xuxa", ela trocou suas paquitas tradicionais por drag queens. Em 2020, lançou o livro infantil "Maya - Bebê Arco-Íris", em que uma criança vê num casal de mulheres uma família ideal. No mês passado, ela lotou de gays um navio para um cruzeiro temático.
Sua relação com a comunidade vem do passado, ela diz. "Eu cantava 'vou pintar um arco-íris de energia' no que era para ser só uma música infantil, mas os LGBTs pegaram como se fosse o hino deles", diz ela sobre "Arco-Íris", lançada no disco "Xou da Xuxa", de 1988.
Xuxa não conhecia a arte drag o suficiente para avaliar as participantes com propriedade. Para ocupar a cadeira de jurada, a apresentadora diz que abusou dos conhecimentos de Ikaro Kadoshi, que comanda o programa e já apresentou outro reality do gênero, o Drag Me as a Queen, no canal de TV pago E!, em 2017.
A apresentadora diz que também recebeu ajuda das celebridades que são levadas a cada episódio. Todos têm alguma ligação com a cidade em que o episódio se passa.
A modelo Nicole Bahls, por exemplo, ajudou a decidir qual seria a primeira drag queen eliminada no capítulo gravado no Rio de Janeiro, local onde ela já viveu. No episódio seguinte, quem dá pitacos é o cantor goianiense Mateus Carrilho. Juliette e Lázaro Ramos também vão ao programa.
O programa é a realização de uma vontade antiga, diz Xuxa. Ela diz ter levado a ideia de um programa com drag queens à Globo quando ainda trabalhava na emissora. Queria apresentá-lo com Ivete Sangalo. "Recebi um 'não' do diretor. Ele disse que não tinha a cara da televisão e que não teria público."
CARAVANA DAS DRAGS
Quando Três episódios lançados nesta sexta-feira (13); depois, um a cada sexta
Elenco Xuxa, Ikaro Kadoshi e Juliette
Produção Brasil, 2023