A China busca conquistar o território de Taiwan, que defende a própria independência. O clima de apreensão piorou após a visita da parlamentar estadunidense Nancy Pelosi à ilha, o que foi interpretado como provocação pela China, que aumentou o cerco militar a Taiwan.
"Os Estados Unidos estão empenhados em fortalecer os laços com os países asiáticos que temem a expansão da China. Temos os Estados Unidos e seus aliados da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] mais o Japão preocupados com a expansão chinesa. E essa expansão se objetiva na suposta tentativa de a China retomar Taiwan à força. Isso, no entendimento de norte-americanos e japoneses, equivaleria ao ataque que a Rússia fez à Ucrânia", explica Gonçalves."É intenção dos Estados Unidos fortalecer esses laços e - é aí que entra o Brasil - atrair países do sul global para essa aliança. Os Estados Unidos já não têm mais a influência que tinham sobre os países periféricos, e essa reunião é uma tentativa não de voltar a exercer o controle, mas de seduzir certas lideranças a integrar essa aliança. Temos a convergência da relevância do Brasil adquirida pelo governo Lula e essa conjuntura muito especial de guerra na Europa e suposta ameaça de Taiwan pela China", complementa.
O docente reconhece o temor em torno da questão e a possibilidade de reintegração de Taiwan à China como principais pautas do G7. "Além disso, há as restrições, os boicotes que são feitos à economia russa, em virtude da guerra que trava com a Ucrânia, aliada da Otan. Os Estados Unidos comandam toda essa rede, que procura boicotar a economia russa, mas, por outro lado, sabemos que a economia russa está sendo sustentada, em grande medida, pelo apoio da China e da Índia. A China, como sabemos, não comparecerá à reunião de Hiroshima, mas a Índia, sim. Portanto, é uma oportunidade que os Estados Unidos têm de tentar convencer os indianos a deixarem de apoiar a Rússia, o que será muito difícil, independentemente da simpatia que o governo indiano dispensa aos Estados Unidos".
Apesar de crer que o Brasil tenha pouco espaço para tratar mais diretamente sobre as estratégias em torno de Taiwan, Gonçalves pensa que a reunião da cúpula do G7 pode servir ao presidente Lula como uma janela para negociações comerciais.
"Um dos objetivos do presidente Lula, no seu giro internacional, é atrair investimentos para dinamizar a economia brasileira, tão debilitada. E não há a menor dúvida de que uma reunião como essa é sempre uma boa oportunidade de colocar o Brasil e sua economia em evidência", pondera o professor.
Lula cumpre agenda no Japão até a próxima segunda-feira (22), quando volta ao Brasil. Embora não componha o grupo, formado por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá, o líder brasileiro foi convidado para participar dos encontros.
O professor Williams Gonçalves destaca que o chamado feito ao governo brasileiro decorre da melhora da imagem do Brasil diante da comunidade internacional e, por conseguinte, do resgate de vínculos rompidos anteriormente.
De acordo com Gonçalves, o que determina o valor de um país são três fatores: seu nível de desenvolvimento nas esferas econômica, social, militar e tecnológica, como é visto pelas grandes potências do mundo e sua pretensão, o que quer ser, o que se traduz na forma como conduz sua política externa.
Gonçalves explica que o Brasil já teve um peso maior e que perdeu relevância em certas áreas, como a de tecnologia, embora mantenha interlocução em outras igualmente importantes, como a de meio ambiente. O protagonismo do Brasil na América Latina foi ressaltado pelo embaixador do Japão no Brasil, Hayashi Teiji.