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Bia Haddad curte nova fase, mas dobra atenção com assédio nas redes sociais

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A longeva campanha de Beatriz Haddad Maia no Aberto da França trouxe à memória as vitoriosas jornadas de Gustavo Kuerten no torneio.


Hoje com 27, a paulistana trata o catarinense como "ídolo", como disse após a vitória sobre a espanhola Sara Sorribes Tormo, nas oitavas de final. Ela chegou a se mudar para Florianópolis, na adolescência, para treinar com o velho técnico de Kuerten, Larri Passos. E agora exerce o papel que já foi de Gustavo: atrair a atenção para uma modalidade na qual o Brasil não tinha um "top 10" desde o início do século.

"Eu espero que os resultados recentes do tênis brasileiro tragam, sim, mais praticantes para a nossa modalidade, sobretudo as crianças, os jovens. No meu caso, inspirando meninas para que acreditem no sonho delas e, quem sabe, criando mais oportunidades dentro do país também para todo o mundo", afirmou Haddad à Folha de S.Paulo.

O jogo atual é diferente do praticado na época de Guga, campeão em Roland Garros em 1997, 2000 e 2001. Segundo Beatriz, o tênis está mais rápido, dentro e fora da quadra, o que requer uma série de cuidados.

"A velocidade com que se propaga a informação mudou, acho que isso é o principal ponto. Todos os jogadores podem ver, conhecer os outros, tem a tecnologia envolvida. Acho que a velocidade do jogo também aumentou, mas não necessariamente competimos de maneira melhor do que antigamente", disse.

"Acho que o grande desafio, vale menção, é o cuidado extraquadra. Qualquer pessoa consegue, de certa forma, enviar uma mensagem, fazer algo chegar a alguém, independentemente de quem é aquela pessoa. Isso tem coisa boa e tem coisa ruim, mas acho que, de uma maneira geral, a gente precisa estar ainda mais vigilante", acrescentou.

Bia já tinha relevância no circuito, mas se tornou uma figura bem mais conhecida no Aberto da França. Mostrou um jogo firme do fundo da quadra, com um "forehand" potente, e exibiu também personalidade para superar dificuldades -agressiva, salvou "match point" contra a russa Ekaterina Alexandrova e saiu de um buraco para vencer de virada uma batalha de quase quatro horas com Sorribes Tormo.

A convincente vitória sobre a tunisiana Ons Jabeur, então número sete do mundo, colocou um atleta do Brasil nas semifinais da chave de simples de um torneio da série Grand Slam -que reúne as quatro principais disputas do tênis- pela primeira vez desde o tri de Guga em Paris, em 2001. No circuito feminino, o jejum datava de 1968, quando a craque Maria Esther Bueno atingiu essa fase nos Estados Unidos.

Haddad parou apenas na líder do ranking, a polonesa Iga Swiatek, que dois dias depois seria tricampeã em Roland Garros. Foi um jogo duro, no qual a paulista esteve bem perto de forçar o terceiro set. Não forçou, mas saiu do campeonato maior do que entrou e com a décima posição na lista da WTA, a associação internacional das tenistas.

"O ranking, para a gente, é uma consequência do processo bem-feito, do processo diário com qualidade, do que está no meu controle, do que faço no dia a dia, da forma como eu treino e me alimento, das pessoas que me rodeiam. É nisso que gasto toda a minha energia, deixando essa questão de ponto, de ranking, como algo natural, secundário e consequência mesmo do trabalho", afirmou.

Começa agora a temporada de grama. A brasileira, antes de uma decepcionante derrota na estreia em Wimbledon, conquistou nessa etapa do "tour", em 2022, os dois únicos títulos de elite de sua carreira, em Nottingham e em Birmingham. Ela precisará defender os pontos conquistados, que vão caducar, mas, mais do que isso, vai procurar mostrar que o nível apresentado na França pode ser mantido.

"Eu trabalho duro, diariamente, para ter essa consistência, essa constância. Acho que tenho atuado bem ao longo da temporada toda. Tenho resultados interessantes no saibro, na grama e na quadra rápida. Já estou no top 100 por quase um ano. Acho que isso mostra essa constância dentro do circuito. Vou trabalhar duro para continuar evoluindo, independentemente do piso", disse.

"O circuito feminino, em especial, é bem equilibrado. Eu poderia dizer que há 50 meninas que podem ganhar os principais torneios. Eu, particularmente, acho isso excelente para o público, para o desenvolvimento da modalidade como um todo, já que há maior representatividade", observou.

É um público que ainda se acostuma ao tênis sem Serena Williams, norte-americana apontada por muitos como a maior tenista da história, que se aposentou no ano passado. Swiatek é excelente e, aos 22 anos, já coleciona quatro títulos de Grand Slam. Mas seu duelo com Bia teve muitas cadeiras vazias, o que não se viu nas semifinais masculinas.

Há em curso um movimento de renovação. Aryna Sabalenka, 25, da Belarus, e Elena Rybakina, 23, do Cazaquistão, também têm apresentado nível altíssimo. Beatriz Haddad Maia, 27, demorou um pouco mais para chegar ao "top 10", mas nele está. E quer fazer barulho além de sua excelente campanha em Roland Garros.

"Eu sinto o circuito feminino em plena evolução, as jogadoras estão cada vez mais completas, competindo em alto nível em todas as superfícies. O saque melhorou bastante. A maioria das meninas também devolve muito bem o saque, tem variações. Enfim, fico muito feliz de estar vivenciando este momento do tênis feminino."

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