A biopirataria entrou na mira da PF (Polícia Federal) nesta semana, ao deflagra a Operação Yaguara, em Corumbá, a 419 km de Campo Grande. A cidade pantaneira faz fronteira seca com a Bolívia, principal fornecedora dos últimos anos de peças de onças-pintadas para o mercado asiático.
Os criminosos se aproveitam da maior concentração do felino no Pantanal para lucrar com a caça ilegal e venda de dentes, cabeças e até pênis do animal para os chineses. Após séculos de matança dos tigres asiáticos que está em extinção, esses consumidores viram na onça-pintada uma semelhança para substituir os "produtos" na criação joias, amuletos e até medicamentos tradicionais.
O corpo da onça-pintada, sem cabeça, boiando no Rio Paraguai em março deste ano acendeu um alerta para os órgãos de fiscalização. A investigação da PF confirmou que a cabeça do animal foi vendida para o exterior, configurando também a prática de biopirataria.
Vale ressaltar que não existe uma estatística precisa da biopirataria, já que é um comércio ilegal e que envolve uma cadeia de traficantes. Além disso, os caçadores se desfazem da carcaça para sumir com as provas do crime ambiental. Jogam o corpo do felino no rio, que é devorado por peixes e afunda.
De acordo com um relatório da ONG Wildlife Traffic que investigou o tráfico de onças-pintadas no Brasil, entre 2015 a 2020, foram realizadas 30 apreensões de partes do felino no país. Mas, o número provavelmente representa apenas uma fração dos incidentes gerais de caça furtiva. Em 2016, veículos de imprensa noticiaram que policiais brasileiros apreenderam partes de corpos de 19 onças-pintadas.
Já outro levantamento feito sobre o comércio legal e ilegal de leões e outros grandes felinos realizado pela TRAFFIC, identificou entre 2010 e 2021, a apreensão de 126 dentes e 13 garras que tinham a China como destino final. Já de 2016 a 2021, 44 garras e oito dentes foram apreendidos com a China como destino final, representando 100% das crises de garras e 19% das crises dentárias.
Onça x homem - Após séculos no Pantanal, a caça de onças que comem o gado continua existindo. Fazendeiros chegam a pagar até R$ 5 mil por cabeça de animal abatido. Esses caçadores são chamados de "pistoleiros do gato". A cabeça do felino é vendida por 10 mil dólares como troféu de caça no mercado ilegal.
Apreensões antigas também registraram a prática de abate de onças na região da Amazônia boliviana para traficar suas presas. Contrabandistas pagavam a caçadores até 100 dólares por dente e revendiam no mercado asiático por até 5 mil dólares.
Colapso – Por ser um animal do topo da cadeia alimentar, a caça de onças-pintadas pode causar um colapso em todo o sistema ambiental, de forma irreversível.
O coordenador do programa Felinos Pantaneiro, do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), o médico veterinário Diego Viena, explica o impacto na ecologia causado pela caça de onças-pintadas.
"Quando a gente perde um predador do topo de cadeia alimentar, a gente está perdendo quem equilibra o Pantanal. Vai influenciar ainda na flora, porque o ambiente é equilibrado e conectado", destacou.
Ele ainda disse que a morte do animal também impacta economicamente o turismo no Pantanal. "Tem turista que vem para cá para ver onça viva e ver esse equilíbrio da natureza. É algo que movimenta milhões de reais para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. São turistas nacionais e estrangeiros. Ainda existe a repercussão negativa que podemos ter ao se falar da forma como a onça morreu e isso impactar no turismo".
Denuncie - A Delegacia da Polícia Federal em Corumbá mantém canal de denúncias anônimas através do e-mail [email protected] e do telefone 67 9 9616 2162. Caso saiba de informações sobre este ou outros casos de competência da PF entre em contato.