A percepção muda de acordo com o gênero: mais mulheres reportam perda (65%) na educação que homens (57%).
O instituto realizou mil entrevistas com jovens, na faixa de 15 a 29 anos, nos dias 20 e 21 de julho.
Eles foram ouvidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Goiânia, Brasília, Manaus e Belém. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Dentro do universo de pesquisa do Datafolha, 1 em cada 3 (32%) adolescentes e jovens trabalha e estuda, já 47% só trabalham. Há, ainda, 17% que só estudam, e 4% que não estudam nem trabalham.
Com a pandemia, o Brasil foi um dos países que por mais tempo manteve as escolas fechadas, o que também refletiu negativamente no desempenho dos alunos nas escolas.
De acordo com o Ideb, as repercussões da crise sanitária resultaram em uma queda de aprendizado dos alunos de escolas públicas e privadas em todas as etapas da educação básica.
A estudante de ciências sociais Sarah Rachel Paulino Andrade, 19, concorda que a pandemia causou danos irreversíveis na sua formação acadêmica. "Foi muito ruim. Não foram passados conteúdos básicos. Por isso, entrei em uma faculdade privada, e não em uma pública", diz.
Ela sentiu a defasagem quando prestou o vestibular no ano passado. Após não obter aprovação em instituições públicas, ingressou em uma faculdade privada.
"Além da mensalidade, tenho que pagar pelo transporte e alimentação. Está muito difícil. São várias questões que abrangem a permanência estudantil e a gente não vê ajuda por parte do Estado", lamenta ela.
Sarah planeja prestar novamente vestibular de uma universidade pública.
A estudante diz ter notado que a pandemia também afetou o aprendizado de colegas delas, levando alguns a desistir da faculdade e outros a ingressar em cursos técnicos. Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) indicam que a taxa de abandono escolar mais que dobrou em 2021, de 2,3% (2020) para 5,6%.
Além disso, de acordo com um estudo divulgado em setembro pela Unicef, 17% dos estudantes das classes D/E abandonaram a escola durante a pandemia e não retornaram, metade deles para trabalhar fora.
Entre os que voltaram, 46% se sentiram despreparados para acompanhar as atividades escolares, 35% tiveram dificuldade para controlar suas emoções e 30%, pensamentos negativos, sentiram-se tristes e deprimidos.
Já a designer Mayara Borges de Almeida, 25, diz que não sentiu tanto o impacto da pandemia na educação. Ela considerou tranquilo o período de ensino remoto na faculdade. Porém, para sua irmã de 15 anos foi mais desafiador.
"Ela ficou em casa até o fim do ano passado e foi muito ruim, porque ela está numa fase de estudos complicada, que é a base de tudo para aprender para o vestibular", diz Almeida.
Olavo Nogueira Filho, diretor-executivo do Todos Pela Educação, analisa que, apesar do cenário educacional do país ser grave, isso não significa que seja irreparável.
Ele chama a atenção para situações como a de Sarah, ou seja, em que a crise econômica afeta os estudos e impede o aluno de dar continuidade aos estudos. "É preciso atenção à questão de necessidade de trabalho e importância de se pensar na política de auxílio para jovens que precisam de apoio para não terem que colocar educação em segundo plano."
Alexandre Schneider, ex-secretário de municipal de educação de São Paulo e colunista do jornal Folha de S.Paulo, diz acreditar que pesquisa foi realizada em um momento em que os jovens estavam retornando às aulas presenciais e, por isso, a insegurança e a sensação de perda são naturais.
E acrescenta que o quadro pode estar atrelado à saúde mental dos adolescentes e jovens. "É muito importante que as escolas mantenham ou adotem projetos específicos para tratar a questão da saúde mental e da construção de laços."
Para ele, quando um jovem sinaliza que teve perdas não recuperáveis, significa que ele está inseguro tanto em relação ao seu próprio processo de aprendizagem quanto à capacidade da escola em garantir isso.
A pesquisa ainda mostra que a maioria (66%) concorda que a escola ensinou os jovens a formarem suas próprias ideias e opiniões sobre a realidade brasileira. Os números variam um pouco quando comparam os jovens de acordo com os pensamentos ideológicos: 72% entre os de esquerda concordam com a afirmação; 64% entre os de direita.
Para Schneider, esses dados mostram que os jovens não devem ser subestimados. "Eles têm ideias próprias e a pesquisa indica que qualquer tipo de tentativa de conduzir a forma de pensar desse aluno vai dar errado", diz ele. "Isso mostra que a escola faz pensar, não só para um lado, senão teríamos jovens só com uma tendência ideológica."
A pesquisa mostra também que metade dos jovens (52%) concorda que a escola os preparou para ser um bom profissional no mercado de trabalho. "O dado remete ao modelo de ensino médio mais voltado para o Enem e vestibulares", diz Schneider. Esse modelo, continua ele, não está alinhado ao mundo real nem dá ferramentas aos jovens percorrem o caminho no mercado de trabalho.