Lula fez um pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, na véspera das celebrações do Dia da Independência.
A fala televisionada de Lula destoou do formato tradicional desse tipo de pronunciamento e foi intercalada com imagens externas, incluindo a de trabalhadores, obras e projetos estatais, além de fundo musical, em linguagem próxima da utilizada em horário eleitoral.
Lula não citou em nenhum momento os ataques golpistas de 8 de janeiro, mas pediu união no Brasil e afirmou que é possível viver superando as divergências.
“Amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo, e sim de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos”, afirmou o presidente.
“Que podemos ter sotaques diferentes, torcer para times diferentes, seguir religiões diferentes, ter preferência por este ou por aquele candidato, mas que somos uma mesma grande nação, um único e extraordinário povo”, completou.
Acrescentou que em oito meses sua equipe recolocou o “Brasil no rumo da democracia, da soberania e da união”, citando os três eixos presentes no slogan para a data história elaborada pela sua equipe de comunicação.
A maior parte do discurso do mandatário foi para exaltar os avanços econômicos de seu governo, ressaltando que o PIB (Produto Interno Bruto) não crescia no ritmo atual desde 2010 —último ano de sua segunda passagem pela Presidência.
Assim como vem fazendo em suas transmissões ao vivo às terças-feiras na internet, Lula novamente afirmou que as ações de sua nova gestão estão combatendo as desigualdades, criticando assim a classe mais alta da sociedade, que teria sido sempre beneficiada.
“Nosso país voltou a crescer com inclusão social, distribuindo renda e combatendo as desigualdades. No passado, quando o Brasil crescia, quem ganhava era apenas uma minoria já muito rica. Agora, quando a economia cresce, a vida melhora para todo mundo”, afirmou o mandatário.
O presidente citou especificamente, entre os avanços, ganho acima da inflação nas negociações salariais, geração de emprego e as legislações do novo salário mínimo e também da paridade entre homens e mulheres.
“O arroz, o feijão, o óleo de cozinha, o botijão de gás, tudo ficou mais acessível. Milhões de famílias estão negociando suas dívidas em condições favoráveis e vão ficar novamente com o nome limpo na praça. Mais empregos, melhores salários, menos dívidas, mais poder de compra. Comércio e indústria vendendo mais e contratando mais e mais trabalhadores”, afirmou.
Esse será o primeiro 7 de Setembro do terceiro mandato de Lula.
A cerimônia será realizada oito meses após os atos golpistas de 8 de janeiro, quando militantes bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso Nacional.
Assim como em seu pronunciamento, a tônica do desfile será dada na questão da pacificação e união do país.
Como mostrou a Folha, o slogan da cerimônia será “Democracia, soberania e união”.
Um dos objetivos será buscar associar as Forças Armadas com democracia, após meses de desconfiança por causa da aproximação da cúpula militar com o bolsonarismo e mesmo as suspeitas relativas ao 8 de janeiro.
Além dos desfiles, acontece há uma semana uma exposição com veículos militares na Esplanada dos Ministérios. Ao mesmo tempo em que prevê oficialmente um evento pacífico, as instituições de segurança do novo governo trabalham para evitar ações de militantes bolsonaristas.
Lula usou no passado a cadeia de rádio e televisão para pronunciamentos em quatro vésperas do Dia de Independência, durante seus dois primeiros mandatos. Só não se valeu desse expediente em 2003 e 2004 e também nos anos de eleição presidencial, por conta de vedações da Justiça.
O petista já aproveitou esses pronunciamentos para rebater denúncias de corrupção, celebrar avanços econômicos, alertar contra o risco da inflação e exaltar o “Brasil do futuro” com a descoberta do pré-sal.
Em 2005, por exemplo, dedicou uma boa parte de sua fala para abordar o caso do mensalão, embora não o tenha mencionado nominalmente.
“A crise política também será vencida, pelo Congresso, pelo governo e pelo povo brasileiro. Será vencida com a apuração cabal de todas as denúncias e com a punição rigorosa dos culpados. Nem eu e nem vocês admitiremos qualquer contemporização, nenhum acordo subalterno. Doa a quem doer, sejam amigos ou adversários”, afirmou o presidente, na ocasião.
Em anos seguintes, o destaque do pronunciamento foi todo para a descobertas das jazidas do pré-sal, em que visualizava o nascimento de um novo Brasil, previa décadas de prosperidade, ao mesmo tempo que pedia responsabilidade com o uso desses recursos.
“É comum que o 7 de Setembro sirva para a gente enaltecer o passado e pensar o presente. Desta vez é diferente: este é o 7 de Setembro de o Brasil festejar o futuro. De celebrar uma nova independência”, afirmou o presidente no pronunciamento de 2009.
“Esta nova independência tem nome, forma e conteúdo. Seu nome é pré-sal. Seu conteúdo são as gigantescas jazidas de petróleo e gás descobertas nas profundezas do nosso mar. Sua forma é o conjunto de projetos de lei que enviamos, há poucos dias, ao Congresso Nacional. E que vai garantir que esta riqueza seja corretamente utilizada para o bem do Brasil e de todos os brasileiros”, completou.