LEONARDO VIECELI
FOLHA DE S.PAULO
RIO DE JANEIRO – A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou para 0,23% em agosto, após subir 0,12% em julho, apontam dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A energia elétrica residencial exerceu a principal pressão no índice do mês passado, enquanto o grupo alimentação e bebidas registrou a terceira queda consecutiva.
Mesmo com a aceleração, o IPCA de agosto ficou abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,28%.
Com os novos dados, o índice oficial acumulou inflação de 4,61% em 12 meses. Nesse recorte, a alta era de 3,99% até julho.
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 6 tiveram alta em agosto. Habitação teve o principal impacto positivo (0,17 ponto percentual) e a maior variação (1,11%) entre os segmentos.
Nesse grupo, a contribuição mais relevante (0,18 ponto percentual) veio da energia elétrica residencial, que subiu 4,59%, sob impacto do fim da incorporação do bônus de Itaipu, creditado nas faturas do mês anterior. Além disso, houve reajustes em quatro áreas pesquisadas pelo IBGE (Vitória, Belém, São Luís e São Paulo).“O aumento na energia elétrica foi influenciado, principalmente, pelo fim da incorporação do bônus de Itaipu, referente a um saldo positivo na conta de comercialização de energia elétrica de Itaipu em 2022, que foi incorporado nas contas de luz de todos os consumidores do Sistema Interligado Nacional em julho e que não está mais presente em agosto”, disse o gerente da pesquisa do IPCA, André Almeida.
Do lado das quedas, o destaque ficou com o segmento de alimentação e bebidas, que teve baixa de 0,85%, a terceira consecutiva. Com isso, o grupo registrou impacto de -0,18 ponto percentual no índice.
A queda de alimentação e bebidas deve-se principalmente ao recuo nos preços da alimentação no domicílio (-1,26%).
Nesse sentido, o IBGE destacou as baixas da batata-inglesa (-12,92%), do feijão-carioca (-8,27%), do tomate (-7,91%), do leite longa vida (-3,35%), do frango em pedaços (-2,57%) e das carnes (-1,90%).
O arroz (1,14%) e as frutas (0,49%), por outro lado, subiram de preços, assim como o limão (51,11%) e a banana-d'água (4,90%).
O IPCA serve como referência para o regime de metas do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.
A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até dezembro.
A inflação acumulada, contudo, acelerou no começo do segundo semestre, em um movimento aguardado por analistas.
Parte desse cenário está associada à base de comparação. É que o efeito das deflações (quedas) registradas no segundo semestre de 2022 sairá da base de cálculo do IPCA em 12 meses até dezembro.
Na segunda metade do ano passado, o índice havia perdido força com a redução artificial dos preços de itens como os combustíveis. A baixa ocorreu em meio ao corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.
Analistas do mercado financeiro projetam IPCA de 4,93% no acumulado de 2023, acima do teto da meta de inflação, de acordo com a edição mais recente do boletim Focus. O relatório foi publicado pelo BC na segunda-feira (11).
Neste ano, a autoridade monetária virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defende a redução da taxa básica de juros, a Selic, como forma de impedir uma forte desaceleração da economia.