Nesta semana, o programa Mulheres Positivas recebeu a professora Luciana Temer. Responsável pelo Instituto Liberta, que luta pelo combate contra a violência sexual contra crianças e adolescentes, ela conversou com a apresentadora Fabi Saad sobre o tema. “Quando você pensa que o estupro ou a violência sexual é contra a mulher, você pensa numa política pública de enfrentamento. Quando você consegue enxergar que essa violência na verdade é contra crianças e adolescente, você tem que voltar seus olhos para outras políticas de enfrentamento. A gente tem que falar de educação e escola. Estamos falando de uma violência estrutural. Enquanto a gente não enxergar isso como violência estrutural, não será de fato um problema para a sociedade”, defendeu. Temer também falou sobre a eventual gravidez na infância e adolescência. “A gente tira a chance dessas meninas de se transformarem em algo. Elas saem da escola, não se capacitam, ficam submetidas à violência, sem condições financeiras, econômicas e estruturais. A gente está falando de um Brasil que não enxerga que violência contra crianças e adolescentes é uma epidemia e tem consequências pessoais e sociais muito graves para todos nós.”
Luciana também destacou que a vergonha pode desencorajar mulheres vítimas de estupro e levar criminosos à impunidade. “A violência sexual é algo que normalmente constrange a vítima. É compreensível, portanto a gente tem que mudar a relação da sociedade com essa violência. O constrangimento leva ao silêncio, o silêncio leva a impunidade. Eu vivi um episódio de violência sexual e que depois ficou público. Aos 27 anos, fui vítima de um estupro num assalto. Tinha acabado de sair da delegacia, pedir exoneração e não registrei a ocorrência”, contou. “Na época, senti que ia ficar exposta, e isso me incomodou. Hoje, a mulher de 53 anos olha para a de 27 e pensa: ‘Nossa, como é que eu não registrei?’. O meu estupro precisava estar ali nos dados.” No caso das crianças, ela aconselhou para que os pais ou responsáveis acreditem na palavra dos filhos quando denunciarem um caso de abuso. “A gente sempre acha que a violência sexual está longe. Então, a gente está falando de acreditar na criança, preparar a criança para uma situação dessas. Para ela saber o que fazer, criar uma situação de confiança para ela contar. Mais do que tudo, a gente tem que ter a maturidade para acreditar. Se a criança tem o desconforto, ela não pode continuar naquela situação”, explicou.
Como livro, Luciana indicou a “A paixão segundo G.H.”, de Clarice Lispector. “Não é muito fácil, mas muito prazeroso, um processo muito intenso de autoconhecimento”, avaliou. A obra de Marcela Temer, ”Fragmentos de Alma”, também está na lista de favoritos da responsável pelo Instituto Liberta. “Um livro sobre três gerações de mulheres que vão conhecendo e entendendo o seu lugar no mundo.” Como filme, ela indicou “Anjos do Sol”, uma produção brasileira que discute o tráfico de pessoas e a escravidão sexual. Como mulher positiva, homenageou a jornada de Malala Yousafzai e sua luta pela educação e emancipação intelectual das mulheres.