O conflito bélico entre Israel e Hamas teve início há duas semanas, após o grupo extremista disparar foguetes sobre o país judaico. Desde então, mais de 5.000 pessoas morreram na Faixa de Gaza e 13.162 foram feridos pelos bombardeios. Além da questão humanitária, outra preocupação causada pelo embate é em relação aos impactos econômicos que um escalonamento do conflito pode gerar em todo o mundo. Especialistas consultados pelo site da Jovem Pan afirmam que os principais riscos para o Brasil estão na piora da inflação do país e a possibilidade de que o Banco Central diminuía o ritmo de cortes na taxa básica de juros pela deterioração do cenário internacional. O diretor de Alocação e Distribuição na InvestSmart XP, André Meirelles explica que a Guerra no Oriente Médio tem potencial de impacto negativo na trajetória da inflação, uma vez que a região é importante para a produção de petróleo.
“Principalmente países como Irã, Iraque e Arábia Saudita que reúnem quase 20% da produção diária da commodities. Se houver alguma dificuldade de escoamento da produção de petróleo desses países produtores para os centros consumidores, teremos uma alta no preço do petróleo e consequentemente nos preço dos derivados. Além disso, importante avaliar se haverá paralisação das atividades produtivas em Israel, dado que o país é exportador de produtos utilizados em fertilizantes, o que também pode influenciar no preço desses insumos”, pontua. André Meirelles ainda cita que a escalada da guerra pode aumentar a aversão ao risco dos investidores, intensificando a volatilidade dos mercados. Para o Brasil, a deterioração do cenário internacional pode reduzir o espaço para a continuidade da queda na taxa Selic.
O economista Carlos Caixeta complementa que, se o preço do petróleo como energia aumentar, o valor dos outros produtos derivados também aumenta. “Enquanto isso for um evento pontual, nós não teremos inflação, ou seja aumento de preço, de outros insumos mundialmente. Agora, se isso for permanente, teremos impacto na inflação mundial. Mas minha análise é de que será algo mais pontual. A possibilidade de ser permanente e o petróleo do tipo Brent ultrapassar os US$ 100 por barril é de baixa a média. Precisamos monitorar esse movimento para saber de fato como as cosias vão funcionar e acompanhar se haverá a entrada de outros países árabes nesse conflito”, indica.
Para Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama, o grande risco da guerra para o Brasil, bem como para a economia global, é o conflito se alastrar na região, envolvendo outras nações. “Essa situação poderia provocar uma disparada nas cotações do petróleo, sobretudo se houver algum tipo de restrição à passagem de petroleiros no estreito de Ormuz, por onde passam cerca de 20% do petróleo consumido. Se algo desse tipo ocorrer, poderemos reviver um novo choque inflacionário no mundo. Com isso, as taxas de juros, que já estão elevadas na maior parte dos países, precisariam permanecer nos patamares atuais por ainda mais tempo, atrapalhando a dinâmica de crescimento, incluindo países emergentes como o Brasil. Tal situação tende a desestabilizar os preços de muitas commodities, trazendo enorme volatilidade, o que prejudica o comércio internacional, tendo impacto sobre os países que as produzem, o que é nosso caso.”
Já o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, pondera que os efeitos serão limitados no curtíssimo prazo. Ele considera que um escalonamento da guerra pode levar ao aumento do preço do petróleo, que tem maior sensibilidade na região. “Nesse caso, ao se manterem em valores elevados por semanas, é possível que haja um repasse dessa variação para os combustíveis como a gasolina e o diesel. Diante disso, os bancos centrais seriam os mais afetados. Mas, por enquanto, como não há concretização desses riscos, as autoridades monetárias seguem cautelosos para não tomar nenhuma decisão precipitada. No Brasil, por exemplo, uma alta dos combustíveis não deve impactar na queda dos juros nos próximos meses dado o cenário mais benigno da inflação. Porém, se a conjuntura econômica piorar, é possível termos uma desaceleração do ritmo de cortes. Ao invés de 0,50 p.p. como programado, seria de 0,25 p.p.”, complementa.
Dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil) indicam que, em 2022, o agronegócio brasileiro exportou cerca US$ 727,43 milhões em produtos para Israel, com especial enfoque para a proteína animal, soja, cereais, farinhas e preparações, produtos florestais, café e sucos. “Em relação à Palestina, esses números são bem mais modestos, totalizando US$29,9 milhões, especialmente carne, cacau e alguns outros gêneros alimentícios. Lado outro, o Brasil importou cerca de US$ 1,45 bilhão em fertilizantes, defensivos e sementes de Israel. Essa relação comercial deficitária para o Brasil já era proveniente dos impactos da guerra entre Rússia, principal fornecedor de adubos e fertilizantes químicos, e a Ucrânia. Nesse sentido, percebe-se que o potencial impacto da guerra entre Israel e Hamas estará relacionado ao preço dos defensivos, sementes e, sobretudo, fertilizantes”, afirma Leonardo César, do ALE Advogados, especialista em direito empresarial e tributário aplicado ao agronegócio.
O especialista ainda aponta que outros impactos que certamente serão sentidos estão relacionados ao custo e seguro do transporte dessas commodities e insumos. “Cientes de que o conflito pode escalar ainda mais, é possível que os navios permaneçam atracados em regiões próximas ao país de destino, sem poder desembarcar os produtos que transporta, demandando tempo de espera, além da possibilidade de perdas em alguns destes produtos. Esses fatores encarecerão o frete e o seguro das mercadorias. Por fim, ainda é possível que os conflitos transpassem as fronteiras dos países envolvidos, Israel e Palestina, alcançando, também, os Países Árabes, com os quais o Brasil mantém intensa relação comercial. Eventual paralização dos portos localizados no Oriente Médio afetará sobremaneira a capacidade de exportação do Brasil para esses países, em razão da dificuldade logística e impactando a balança comercial’, finaliza.