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Evento

Sebastião reencontra irmãos da viola de cocho no museu onde a memória dos cururueiros faz morada

Para além de qualquer edição do Festival América do Sul, quando a programação se finda, sempre um legado fica, e em 2023 não foi diferente.


Embora esta tenha sido a primeira vez que se viam, a devoção ao cururu e às tradições uniu, mesmo, aqueles separados por gerações. "E esse senhor aqui não é parente de Vitalino, não?", questiona seu Sebastião ao cumprimentar um a um dos cururueiros. "Sou eu mesmo", responde. "Eita, rapaz! Muito prazer em conhecê-lo, olha…" e dali já se engata uma prosa.

Por serem da terra do pai de seu Sebastião, também mestre de viola de cocho, é fácil encontrar conhecidos que carregam traços de quem Sebastião conviveu num passado.

Em poucos minutos de conversa, de quebra o mestre do lado de cá se atenta para uma coisa. "Eu estou perdendo o meu sotaque, porque fica muito tempo sem ver, eu chego a perder o ritmo", justifica. 

Registrada no Livro dos Saberes em dezembro de 2004 como o 5º bem de natureza imaterial a ser eternizado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a viola de cocho é patrimônio imaterial brasileiro, e seus mestres, os detentores dos saberes, da vivência e da cultura pantaneira.

Reencontro

O encontro de pessoas e reencontro de histórias, cultura e tradições marca a inauguração oficial da Sala da Memória Mestre Sebastião Brandão, localizada na casa do mestre, o grande anfitrião deste Festival América do Sul.

Com receio de não conseguir falar de tanta emoção, seu Sebastião abre a cerimônia falando da emoção de ver quem ele tanto queria encontrar. "Vocês são para mim meus irmãos. Eu agradeço muito vocês terem vindo, e eu quero sentar num banquinho ali e ouvir vocês cantar, porque talvez eu não vou aguentar", antecipa.

Para quem nasceu e cresceu tendo como identidade um só Mato Grosso, a divisão do Estado fica só na geografia. 

"Dividiram o nosso estado de Mato Grosso. Virou Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas a nossa tradição, a nossa cultura, não. Isso não dividiu, e essa cultura nós não devemos deixar ninguém roubar de nós. A viola de cocho  é registrada como patrimônio imaterial nacional. Ela é do Brasil, mas ela mora na casa dela: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é a casa dela", enfatiza.

Ao olhar a família do mestre Alcides, que já está na sexta geração de cururueiros, seu Sebastião narra a luta que tem travado para que do lado sul-mato-grossense, o cururu e a viola de cocho não fiquem só no passado. 

"Eu perdi os meus companheiros, que Deus o tenha, e eu fiquei assim, sem parceiro para cantar. Venho lutando com o meu neto para deixar minha semente. Ele ainda não está bem lá, mas está chegando. Mas vai chegar", profetiza o avô.

Sala da Memória

A inauguração não é apenas fazer o descerramento da placa perante autoridades. É quando se entrega, por completo, uma obra para a sociedade. Neste caso, a placa reconhece – como se precisasse – o local como espaço cultural, fruto de um projeto executado com fomento do FIC/MS (Fundo de Incentivo à Cultura) do Governo do Estado, investimento do bolso da família Brandão, muito suor e trabalho de toda uma equipe que enxerga e valoriza o patrimônio histórico de Mato Grosso do Sul.

"Nós, da gerência, enquanto Fundação de Cultura, este é um dos momentos mais emocionantes para a gente que trabalha com o patrimônio cultural. Este encontro, fazer a inauguração, todo o trabalho da nossa equipe, é um dos momentos mais emocionantes que nós temos", agradeceu a gerente de Patrimônio Cultural da Fundação de Cultura do Estado, Melly Sena.

Representando os cururueiros de Mato Grosso, o mestre José Rodolfo de Carvalho Almeida agradeceu o convite, além de reconhecer a importância histórica do momento. Jovem, ele explica que hoje tem a missão de levar a viola de cocho adiante. 

"Minha tia teve um papel importante nesse incentivo na minha infância de estar no cururu e estar nas rodas de siriri. Quero agradecer a todos vocês aqui de Corumbá pelo acolhimento, pela recepção maravilhosa que tiveram comigo, com os meus companheiros, e dizer que estamos à disposição. O que precisarem de nós, estamos bem ali, do outro lado da divisa, mas com o coração unido pelo mesmo objetivo e propósito, que é o de levar adiante a nossa tradição". 

Superintendente do Iphan, João Henrique Santos, entregou uma homenagem aos cururueiros, um documento que declara que o Iphan tem ciência do notório saber e engajamento destes mestres nas manifestações culturais registradas como patrimônio cultural brasileiro.

"A gente sabe que as referências culturais não obedecem os limites geográficos, então a gente vai estar sempre tratando e cultuando a mesma cultura, a mesma memória e as mesmas referências que é o rio Paraguai que nos unem enquanto irmãos pantaneiros".

Fonte: Ascom FAS 2023
Fotos: Bruno Rezende

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