Qual é o principal problema no trânsito hoje em relação aos acidentes, a maior imprudência? Essa foi uma das perguntas realizadas pela apresentadora Fabíola Guimarães na entrevista "Como Melhorar o Trânsito?", veiculada pela Rádio e Televisão Educativa do Paraná (RTVE), em 2009. Apesar de tanto tempo ter passado, vale a pena refletir sobre as informações e perceber que nada, ou muito pouco, mudou desde então.
A entrevista, realizada em 2009, fez parte do programa Com a Palavra. Esse especial veiculado pela RTVE ouviu quatro especialistas* em trânsito: Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito; Tenente Silvio Cordeiro de Paula, Relações Públicas do Batalhão de Polícia de Trânsito do Paraná (BPTran) à época; Maria Helena Gussu Matos, que era coordenadora de educação no trânsito do Detran, do Paraná; e Luiz Cláudio Brito Patricio, ciclista e integrante da ONG Grupo Transporte Humano.
Confira a seguir 5 comportamentos que mais contribuem para gerar acidentes nas cidades.
Para o tenente Silvio de Paula, o principal problema são os abusos nos cruzamentos. "É sempre aquela tentativa de passar no sinal amarelo", exemplifica. Além disso, a falta da sinalização clara de cruzamento é outro agravante. Com isso, muitos motoristas, ao invés de ter atenção redobrada quando não há uma sinalização, fazem exatamente o contrário: aproveitam para cruzar a via de forma imprudente.
As ruas de grande fluxo acabam também sendo as de maior registro de acidentes. Em Curitiba, a Marechal Floriano em 2009 era a via campeã em número de acidentes, o que motivou uma série de reformas para diminuir a velocidade na pista e aumentar a sinalização. Com isso, a rua caiu para o sétimo lugar em 2023 e os registros de acidentes diminuíram de acordo com levantamento do Detran e Setran na capital paranaense.
De acordo com Celso Mariano, diretor do Portal do Trânsito, o comportamento inadequado é um dos maiores componentes de acidentes e reforça a importância de uma formação cidadã. "Nós temos um problema muito sério, cultural, no Brasil: nós consideramos que o que é público não é de ninguém, ao invés da visão correta de que, o que é público, é de todos".
Ele lembra que todo direito que temos tem uma outra face da moeda: é também nossa responsabilidade.
"Então, por espírito de cidadão e de responsabilidade, as pessoas deveriam conhecer um pouquinho mais da legislação de trânsito. Pelo mesmo princípio, as escolas deveriam estar mais preocupadas em ensinar trânsito, o sistema de educação como um todo⦠isso é uma crítica geral e é um problema que não é exclusivo do Brasil. O trânsito é um problema no mundo inteiro", complementa o diretor do Portal do Trânsito.
Além disso, Mariano destaca que o trânsito foi feito para facilitar a vida. De acordo com o diretor, ele foi criado para permitir que as pessoas possam ir de um local ao outro com mais agilidade. "Nós precisamos do trânsito. Não é justo que o trânsito ceife vidas".
A falta de conhecimento de que todos no Brasil desempenham um papel ativo no trânsito é outro complicador. Ciclistas, pedestres, motoristas de ônibus também fazem parte do trânsito, mas nem todos acabam tendo acesso à educação.
"Uma das únicas oportunidades que o cidadão no geral tem para estudar trânsito é quando ele vai tirar a carteira de habilitação", alerta Celso Mariano.
De acordo com o diretor do Portal do Trânsito , há época da gravação do programa (em 2009), o Brasil contava com quase 200 milhões de habitantes, para em torno de 45 milhões de carteiras nacionais de habilitação ativas no país. "O que é 45 milhões no universo de 200 milhões? A esmagadora maioria da população não dirige. Tem pessoas que jamais vão dirigir um automóvel. Entretanto, todos são usuários do trânsito".
Não se colocar no lugar do outro é outra atitude que abrevia vidas. Muitos motoristas, ao entrar em um veículo, esquecem que o pedestre é mais frágil e que uma direção defensiva pode fazer a diferença para proteger vidas. Ou seja, atitudes como respeitar as regras, sinalizar antecipadamente conversões e paradas são fundamentais para que outras pessoas não sejam surpreendidas no trânsito.
"Os próprios motoristas esquecem que eles também são pedestres. Eu não consigo entrar com o meu automóvel dentro da farmácia, dentro da minha casa. Tem um momento que tenho que estacionar e viro pedestre", conscientiza Mariano.
Por fim, somando a gravidade do item acima, está o individualismo em detrimento do interesse comum. "Se pensa no individual, no medo da multa, e não no entendimento do global do que se está fazendo", alertou Maria Helena.
Uma maior consciência cidadã é crucial para um trânsito mais seguro.
"Nós estamos falando e nos preocupando com veículos, que é um percentual pequeno da população que os tem, e estamos esquecendo do cidadão que está a pé, está utilizando o transporte coletivo e não tem essa informação. Ele não sabe como se comportar no trânsito. Se comporta com imprudência, talvez por ignorar regras de circulação ou por não ter tido realmente essa consciência de que eu também posso ser um causador de acidentes", finalizou.