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MĂ©dicos alertam para riscos de cirurgia de mudança da cor dos olhos

A mudança da cor dos olhos por meio de pigmentação feita em intervenção cirĂșrgica Ă© procedimento de alto risco, com resultados irreversĂ­veis, e deve ser realizado apenas sob estrita recomendação mĂ©dica.

Por Midia NAS em 12/01/2024 às 18:03:37

A mudança da cor dos olhos por meio de pigmentação feita em intervenção cirĂșrgica Ă© procedimento de alto risco, com resultados irreversĂ­veis, e deve ser realizado apenas sob estrita recomendação mĂ©dica. O alerta Ă© do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que chama a atenção para publicações em redes sociais de pessoas que alegam terem se submetido à chamada ceratopigmentação com fins meramente estĂ©ticos, mais conhecido como tatuagem da córnea.

Na maioria das vezes, tal procedimento Ă© indicado somente para pacientes com cegueira permanente (ou com baixa visão extrema) com o objetivo de tentar recuperar a aparĂȘncia de um olho normal. Dentre os problemas que podem ser causados pelo uso indevido dessa tĂ©cnica estão o surgimento de lesões na córnea, que podem ser persistentes e levar à perfuração do olho, infecções graves (atĂ© no interior do olho), e aumento da pressão dentro do olho.

Pacientes que jĂĄ usaram a tĂ©cnica informam dificuldade de enxergar, dor no olho, ardĂȘncia, sensação de areia, aversão à luz e lacrimejamento persistente. Todas essas situações podem levar à redução da visão do paciente, seja na periferia ou no centro da visão, evoluindo, em alguns casos, para a cegueira permanente.

Micropigmentos

Na chamada "tatuagem da córnea", ou ceratopigmentação, Ă© empregada uma tĂ©cnica cirĂșrgica na qual micropigmentos de diferentes cores são implantados nas camadas mais internas da córnea para alterar sua coloração. O procedimento Ă© destinado, principalmente, ao tratamento de manchas brancas que acometem os olhos de pacientes cegos.

"Muitos pacientes que apresentam cegueira permanente em um olho sofrem com o estigma social que sua aparĂȘncia pode provocar. A ceratopigmentação Ă© uma tĂ©cnica indicada para casos em que o paciente cego não se adapta à lente de contato cosmĂ©tica (lente de contato colorida), ou quando não hĂĄ indicação de evisceração ou enucleação (retirada do globo ocular) para adaptação de prótese ocular", esclarece a cirurgiã oftalmologista Juliana Feijó Santos.

"É importante enfatizar que a ceratopigmentação refere-se apenas à coloração corneana, sendo a modificação da coloração escleral (a parte branca do olho) totalmente proscrita (não deve ser realizada)", destaca.

A ceratopigmentação ganhou visibilidade no paĂ­s nos primeiros dias de 2024 após a publicação de vĂ­deo em rede social no qual uma brasileira com visão saudĂĄvel afirma que realizou a cirurgia para mudar a cor dos olhos na SuĂ­ça. As imagens foram compartilhadas na pĂĄgina da clĂ­nica responsĂĄvel pelo procedimento e jĂĄ ganharam mais de 14 milhões de visualizações.

No Brasil, o uso da ceratopigmentação para fins estĂ©ticos Ă© desaconselhado pelo CBO em pacientes saudĂĄveis. Segundo o conselho, o procedimento Ă© recomendado exclusivamente para pessoas que perderam a visão e pode ser realizado apenas quando a córnea jĂĄ estĂĄ comprometida. O Conselho Federal de Medicina (CFM) tambĂ©m não autoriza o uso da tĂ©cnica com essa finalidade.

"Como em todos os procedimentos cirĂșrgicos, os principais riscos são de infeção e inflamação do olho operado", alerta Juliana Feijó, especialista em córnea. Ela ressalta ainda que são poucas as evidĂȘncias cientĂ­ficas dos efeitos de longo prazo do uso de pigmento no estroma corneano, corroborando a necessidade de cautela na busca pela ceratopigmentação. Outro ponto do alerta do CBO vem do fato da ceratopigmentação dificultar futuros exames e procedimentos oculares, como o mapeamento de retina e a cirurgia de catarata.

Biossegurança

Segundo a mĂ©dica, mesmo como prĂĄtica reparadora usada no atendimento de pacientes cegos, a cirurgia só deve ser realizada em um cenĂĄrio em que sejam observados cuidados de biossegurança e com uma boa orientação pós-operatória, pois trata-se de um ato mĂ©dico invasivo e de alto risco.

"É muito importante estar atento ao estado prĂ©vio do olho a ser operado, uma vez que a patologia de base pode influenciar nas intercorrĂȘncias, como perfurações em córneas finas, neoplasias [tumores] não diagnosticadas previamente, ou atĂ© o desenvolvimento de herpes ocular, ou rejeição de um transplante de córnea preexistente", acrescenta Juliana.

Quanto à infraestrutura do local do atendimento, o CBO diz que deve ser realizado em centro cirĂșrgico e com o paciente anestesiado. No pós-operatório, Ă© imprescindĂ­vel um seguimento clĂ­nico e uso correto dos colĂ­rios, para redução de riscos. Para pessoas que pretendem mudar sua imagem com a mudança na cor dos olhos, a indicação Ă© de uso de outras estratĂ©gias, bem mais seguras.

De acordo com a presidente do CBO, Wilma Lelis, pessoas com boa saĂșde ocular que, por motivos estĂ©ticos, desejem mudar a cor dos olhos tĂȘm como melhor alternativa o uso de lentes de contato cosmĂ©ticas. Wilma alerta que mesmo elas devem ser usadas sempre com acompanhamento de um oftalmologista e os cuidados de higiene adequados, visto que a lente tambĂ©m interfere na biologia lacrimal e da superfĂ­cie ocular com potenciais riscos.

"O CBO recomenda que, em qualquer situação, medidas que possam trazer impacto na saĂșde ocular sejam amplamente discutidas com um mĂ©dico oftalmologista. Ao fazermos essa orientação, com base em conhecimento tĂ©cnico e cientĂ­fico reconhecido, queremos proteger a saĂșde da população e chamar a atenção para eventuais riscos aos quais pode ser exposta desnecessariamente", concluiu Wilma.

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