O nigeriano não superou o trauma de duas derrotas e acabou nocauteado pelo brasileiro na noite de ontem (12)
No mundo das artes marciais, traumas são para sempre.
O espetacular lutador nigeriano Israel Adesanya nunca se esqueceu das duas traumáticas derrotas que sofreu no kickboxing para o brasileiro Alexandro Pereira, apelido Poatan.
Em abril de 2016, na China, foi por pontos.
Mas em abril de 2017, foi em São Paulo, de maneira inesquecível. Com direito a uma vitória cinematográfica, por nocaute, depois de estar perdendo a luta.
Egocêntrico, Adesanya jamais esqueceu das derrotas.
Dana White, presidente histórico do UFC, sabia desses confrontos. E tratou de contratar o brasileiro. Ele já antevia o combate, com gosto de revanche. Porque ninguém parava o campeão dos peso-médio.
O nigeriano aparentemente adorou a ideia de se vingar no histórico Madson Square Garden, palco das maiores lutas de boxe, de todos os tempos. Em Nova York, último estado ao permitir o UFC, nos Estados Unidos.
O favorito era o nigeriano, versátil, campeão desde 2019. Era a sétima defesa do cinturão.
A 25ª luta no MMA contra apenas a oitava do brasileiro. A 13ª do nigeriano no UFC contra apenas quatro de Alex Poatan.
Adesanya já entrou para o combate muito diferente do normal. Ele não se esqueceu das derrotas para o brasileiro, de São Bernardo do Campo. Muito mais contido, sério. Estava diferente. No olhar falta confiança, que sempre esbanjou.
Alex Pereira era franco atirador. Foi colocado por Dana White já para decidir o título por conta da situação inusitada, emocionante. Afinal, três lutas no principal torneio de lutas marciais do mundo não são suficientes, normalmente, para disputar o cinturão.
Dana e a esmagadora maioria das vinte mil pessoas que lotavam o Madison Square Garden queriam ver o "acerto de contas" de Adesanya com seu passado.
Só que não se atentaram na vida de superação de Alex Poatan.
Muito pobre, cresceu em uma favela, em São Bernardo do Campo. Largou os estudos com 12 anos. Decidiu trabalhar. Foi ajudante de pedreiro, depois trabalhou vendendo pneus. Aos 16 anos se assumiu como alcoólatra. Rum, pinga, cerveja, o que pudesse, bebia.
Na tentativa de se livrar do vício, que estava sabotando seus empregos, ele decidiu praticar kickboxing. E descobriu seu dom para o combate. Percebeu que seria a salvação de vida de pobreza.
Descendente de índios nordestinos, adotou o apelido Poatan. Unindo duas palavras do tupi-guarani, mão dura, graças aos socos fortíssimos que desferia. Decidiu tatuar pedras nas mãos, para valorizar a firmeza dos seus golpes.
Ganhou títulos nacionais de kickboxing, venceu torneios internacionais, onde derrotou Adesanya. E assistia de longe a carreira vitoriosa e lucrativa do nigeriano no MMA, no UFC.
Ele decidiu fazer a mesma coisa.
E seu talento foi se impondo, cortando caminhos.
Até que nesta madrugada encontrou Adesanaya.
Os dois travaram um duelo épico em Nova York.
O brasileiro já começou a luta dando uma voadora em Adesanya, ganhou confiança e passou a caçar o nigeriano no octógono. Socos entravam com violência no estômago do africano e chutes fortíssimos na canela esquerda, para minar a perna de apoio, a base para chutes altos que fizeram a fama do até então campeão dos médios.
Tudo caminhava bem para o brasileiro, até que Adesanya acertou socos poderosos nos últimos segundos do primeiro round, que fizeram Alex dobrar os joelhos. Ele foi salvo do nocaute pelo fim do assalto.
Bastou para Adesanya voltar certo da vitória. Já baixava a guarda, provocada, atraía Poatan, visivelmente perturbado pelos golpes que sofreu e que minaram sua confiança. Os jabs do africano entravam no rosto do brasileiro. Se não fosse tão resistente, poderia ter perdido a luta, pela sequências de jabs e diretos que tomou. No final do assalto, conseguiu, se forma surpreendente, derrubar o nigeriano e somar pontos importantes.
O terceiro e o quarto assalto foram massacrantes para o brasileiro. Mais solto, Adesanya acertou jabs, diretos cruzados, e levou Alex para o chão. Queria a montada para massacrá-lo no pound and ground, ou seja, dar uma sequência de socos e cotoveladas.
Para sorte de Poatan, o africano não é bom de jiu-jitsu. Porque, se fosse, teria terminado a luta.
Mas ele bateu muito em Alex.
Tanto que se cansou.
No último round, Adesanya entrou certo que terminaria com seu trauma. E venceria o seu carrasco. Mas acontece que Poatan sabia que era "tudo ou nada", já que por pontos a derrota seria inevitável.
Partiu para a trocação e percebeu o cansaço do até então campeão. Porque bater, socar, chutar, e tentar manter o rival no chão, cansa. Foi a senha para Alex acertar um violentíssimo upper, soco de baixo para cima, desnortear Adesanya. E começar a dar diretos e cruzados violentíssimos.
O africano não tinha forças para se defender ou energia para se esquivar. Virou um alvo fixo. Os socos do brasileiro se sucederam, cruéis, impiedosos.
Adesanya foi nocauteado em pé.
Vitória sensacional, cinematográfica de Alex Poatan.
Acabou o reinado de Adesanya.
“Eu sabia que seria campeão. Eu sou humilde, da forma que fiz algumas pessoas não gostaram, mas faz parte, foi de forma saudável. Agradeço todo mundo pela torcida. Vim treinando, treinei duro pra luta. Desde o primeiro camp não fiz três rounds, vinha fazendo só quatro ou cinco. Falo pra você: tive uma luta diária.
“Hoje foi muito difícil, muitas pessoas desacreditaram falando que não poderia fazer cinco rounds. Fiz cinco rounds muito bem. Estou pronto pra próxima”, disse, o brasileiro.
O UFC deve aproveitar, como sempre faz, de um resultado surpreendente. O seu mais carismático campeão perdeu o cinturão.
E, com justiça, terá o direito à revanche.
Só que o trauma aumentou.
Adesanya encontrou seu carrasco.
O brasileiro, campeão dos médios, Alex Poatan.
O ex-alcoólatra que teve sua vida mudada pelas lutas marciais
Fonte: R7