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RS chega a 100 mortes em meio a falta de água e comida e temor de novas tempestades

(FOLHAPRESS) - No mesmo dia em que o nível do lago Guaíba baixou para o menor patamar dos últimos dias, o Rio Grande do Sul chegou nesta quarta (8) à marca de 100 pessoas mortas em decorrência das chuvas que atingem o estado.

Por Midia NAS em 09/05/2024 às 06:33:31

(FOLHAPRESS) - No mesmo dia em que o nível do lago Guaíba baixou para o menor patamar dos últimos dias, o Rio Grande do Sul chegou nesta quarta (8) à marca de 100 pessoas mortas em decorrência das chuvas que atingem o estado.

A data foi marcada também pelo temor de novas tempestades nos próximos dias e de uma onda de frio, prevista para começar já nesta quinta (9). Em meio ao caos causado pelas inundações, o desabastecimento segue cada vez mais presente na rotina dos moradores das áreas afetadas, com relatos de falta de comida e de água se multiplicando tanto no interior quanto na região de Porto Alegre.

Vizinha da capital, Canoas é um dos locais nos quais a população já não tem comida suficiente. Com metade de seu território tomado pela água, o município tem filas com até mil pessoas em busca de mantimentos que estão sendo distribuídos pela prefeitura –mas não há o suficiente para todos.

"Temos, agora, cerca de 600 pessoas esperando e comida para apenas 100. Precisamos de muitas doações", disse o prefeito Jairo Jorge (PSD).

A espera leva pessoas a ficarem mais de três horas na fila, disse ele.

Moradores da capital gaúcha também encontram dificuldade para conseguir suprimentos básicos. Mercados de diferentes bairros da cidade têm prateleiras vazias e falta generalizada de álcool em gel e de alimentos como pão e ovo.

O maior problema, porém, é a falta de água, cada vez mais rara na cidade. Nos locais onde ainda é possível achá-la, logo se formam grandes filas.

Na unidade do Zaffari do shopping Bourbon Ipiranga, no bairro Jardim Botânico, uma linha formada por mais de 60 carrinhos fazia a volta no corredor central. Todos à espera de sua chance de comprar um pouco de água. Devido à escassez do produto, a venda de garrafas e galões está limitada por cliente, com funcionários do local organizando a distribuição.

Já no Gesepel, no bairro do Bonfim, até mesmo prateleiras de refrigerantes estão com espaço de sobra. Quem chega no corredor de bebidas não disfarça a frustração ao ver a falta de produtos. Há quem leve bebidas de limão por "parecer mais com água".

Angelina dos Santos, 71, tem cinco litros de água em casa, mas, temendo problemas no abastecimento, foi ate o supermercado. "Não podemos sair muito, não posso cozinhar. Tenho marmitas congeladas, mas vai acabar".

Ela trabalha como cuidadora na casa de um idoso. O filho dele irá de Blumenau (SC) para atender a demanda do pai e de Angelina com mantimentos. O caminho é longo e deve aumentar já que apenas duas vias permitem a entrada e saída da capital gaúcha, a RS-118 e a RS-090.

Ainda no bairro do Bonfim, um prédio pagou R$ 12 mil (metade adiantado) para um caminhão-pipa abastecer sua cisterna. São 18 mil litros que viajaram do litoral catarinense à capital gaúcha. A entrega levou dois dias.

Próximo dali, a loja do supermercado Zaffari do shopping Total tinha filas grandes nos caixas. O corredor de bebidas estava com poucas partes vazias, mas outros produtos, como sucos e refrigerantes, preenchiam a parte que teria água. Já na loja do bairro Rio Branco, as gôndolas destinadas para água estavam vazias. Consumidores saíam com fardos de água com gás, as únicas restantes.

A falta de suprimentos tem feito grande parte da população fugir em direção ao litoral do estado ou para a vizinha Santa Catarina, regiões que não foram afetadas pelas chuvas que atingiram a maior parte do Rio Grande do Sul.

O prefeito da capital gaúcha, Sebastião Melo (MDB), pediu que os moradores que conseguirem deixem a cidade. A saída em massa provocou alta procura em postos de combustíveis e congestionamento de estradas, embora o fluxo tenha diminuído nesta quarta.

A Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) afirma que a situação não é de desabastecimento. Segundo a entidade, a alta demanda e a dificuldade logística de repor os produtos em meio ao caos causaram as prateleiras vazias. A normalização da situação, porém, depende de a água do Guaíba continuar a baixar –a expectativa, porém, é que aconteça exatamente o oposto nos próximos dias.

Nesta quarta, o lago baixou 24 centímetros em relação à noite de terça e chegou a 5,04 metros. No sábado, a altura era de 5,30, segundo informações do Ceic (Centro Integrado de Coordenação de Serviços).

De acordo com o centro, o lago segue acima do limite, uma vez que é considerado inundado quando atinge 3 metros de altura.

O problema é que a previsão indica que a cidade vai ser atingida por novas tempestades a partir desta sexta (10). Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), do dia 27 de abril até 16h desta quarta, choveu na estação meteorológica do Jardim Botânico, em Porto Alegre, o acumulado de 388 mm. A estimativa agora é que de sexta até a próxima segunda-feira (13), chova até 330 mm na capital gaúcha. Com isso, o Guaíba deve se manter no patamar atual, ou até voltar a subir.

Na tarde desta quarta, uma chuva leve em Porto Alegre, acompanhada de rajadas de vento, já levou a prefeitura a suspender o resgate das vítimas.

Agora, a Defesa Civil se prepara para a nova chuva, que vai castigar exatamente as regiões mais prejudicadas do estado.
A previsão indica que, nesse período, a chuva com maior intensidade será entre o centro-norte e leste gaúcho, incluindo o litoral norte do estado e o sul de Santa Catarina.

Segundo Stéfano Boeira, hidrólogo da Sala de Situação da Sema (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) do Rio Grande do Sul, os volumes esperados desta vez devem elevar os níveis dos rios nos vales, mas menos do que na recente inundação. A Grande Porto Alegre, porém, deve continuar embaixo d'água por mais alguns dias.

"Com esses volumes, deve ter a manutenção dos níveis em inundação na região metropolitana. Aí o lago Guaíba não vai ter um declínio tão rápido dos níveis. A expectativa é que se mantenha acima dos 4 metros com esses novos volumes precipitados, sendo que a cota de inundação do cais Mauá é de 3 m", destaca Boeira. "E se mantiver esses valores elevados de nível, dependendo de como será a direção dos ventos, a inundação vai perdurar por mais 10 a 15 dias."

Nesta quinta-feira (9), o Inmet já prevê tempo frio e seco no sul do Rio Grande do Sul, com temperaturas mínimas variando de 4°C a 8°C. Nas demais regiões do estado, haverá maior nebulosidade e um pouco de frio na madrugada. As temperaturas mínimas podem variar de 10°C a 15°C na metade norte do estado. Pela manhã, a capital, Porto Alegre, pode registrar 13°C.

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