O dirigente também comentou sobre a decisão anunciada na sexta-feira (18) de que não serão mais permitidos a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios do Mundial. "Nós vamos sobreviver."
Em um longo discurso, com uma hora de duração, antes de permitir questionamentos de jornalistas, o suíço-italiano começou dizendo que os europeus deveriam pedir desculpas pelos próximos 3.000 anos por suas próprias histórias antes de "começar a dar lição de moral".
Infantino sugeriu ainda que a Europa "deveria fazer como o Qatar" e permitir a entrada de, pelo menos, uma parcela dos migrantes que buscam uma vida melhor nos países do continente. "Reduza os pagamentos, mas dê-lhes alguma esperança, dê-lhes algum futuro. Isso não significa que não devemos apontar o que não funciona. Aqui no Qatar também, é claro, há algumas coisas que não funcionam e precisam ser abordadas."
Em junho, relatório publicado pela Anistia Internacional apontava denúncias de taxas ilegais cobradas por intermediários e empresas para a contratação dos trabalhadores no Qatar, não pagamento ou retenção indevida de salários, condições análogas à escravidão, horários de trabalho exaustivos em temperaturas que podem superar os 50º C no verão e, especialmente, a "kafala".
Esta é a lei que determinava que o trabalhador migrante só poderia mudar de emprego se o patrão anterior lhe desse uma carta o autorizando. O Qatar afirma que a "kafala" foi extinta, mas as entidades responsáveis pelo relatório dizem que ela continua em vigor em várias companhias.
Com 60 páginas, o documento "Predictable and preventable: why Fifa and Qatar should remedy abuses behind the 2022 World Cup" ("Previsível e evitável: por que Fifa e Qatar deveriam remediar abusos por trás da Copa do Mundo de 2022", em inglês) pedia também que a Fifa e o Qatar paguem uma indenização aos trabalhadores.
Embora não apresente um valor definitivo, a entidade defende que, para começar, a Fifa reserve US$ 440 milhões (R$ 2,35 bilhões) para isso.
Ao comentar sobre a situação dos migrantes, o presidente da Fifa disse que já sofreu com discriminação.
"Hoje me sinto árabe. Hoje me sinto africano. Hoje me sinto gay. Hoje me sinto deficiente. Hoje me sinto como um trabalhador migrante", falou. "Claro que não sou qatariano, não sou árabe, não sou africano, não sou gay, não sou deficiente. Mas sinto vontade, porque sei o que significa ser discriminado, sofrer bullying, como um estrangeiro em um país estrangeiro. Quando criança, sofria bullying porque tinha cabelo ruivo e sardas, além de ser italiano."
Antes de encerrar o discurso, o dirigente minimizou as críticas pelo veto à venda e ao consumo de bebidas alcoólicas nos estádios da Copa, conforme decisão anunciada pela entidade no dia anterior.
"Eu adoraria que esse fosse o problema mais importante da Copa do Mundo. Descansaria na praia até o dia 18. Acho que dá pra ficar três horas por dia sem beber cerveja. Nós vamos sobreviver. Essas regras já estão em vigor na França, na Espanha e na Escócia. Não sei se é mais falado por ser um país árabe", afirmou.
A principal patrocinadora da Copa no Qatar é justamente uma marca de cerveja, a Budweiser, que venderia a bebida alcoólica dentro do perímetro das oito arenas, entre três horas antes e uma hora depois de cada jogo.
A fabricante de cerveja pagou US$ 75 milhões (R$ 401 milhões em valores atuais) para ser patrocinadora oficial do evento. Só a versão zero (sem álcool) da cerveja continuará disponível em todos os estádios.
"[Sobre a] a Budweiser? Ela é um dos nossos principais patrocinadores históricos. Acabamos de renovar nosso acordo até 2026", afirmou Infantino.