O ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a superar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, de acordo a Organização Meteorológica Mundial.
Segundo a entidade, os últimos dez anos estiveram entre os dez mais quentes, em uma extraordinária série de temperaturas recordes. A análise da temperatura global tem como base dados de seis centros meteorológicos ao redor do mundo.
Conforme o levantamento, a temperatura média global da superfície foi de 1,55°C, com uma margem de incerteza de + ou - 0,13 °C, acima da média de 1850 a 1900. O valor é superior à meta estabelecida no Acordo de Paris.
Mas, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial, a meta ainda não foi perdida, porque ela se refere a uma média calculada ao longo de décadas, e o fato de um único ano superar a máxima, não significa que ela foi ultrapassada.
Uma equipe internacional de especialistas, criada pela própria organização, deu uma indicação inicial de que o aquecimento global de longo prazo, conforme avaliado em 2024, está atualmente em cerca de 1,3°C.
Miriam Garcia, gerente de Políticas Climáticas do WRI-Brasil, organização que trabalha com iniciativas de desenvolvimento sustentável, avalia que esses resultados devem ser encarados com seriedade, mas não devem paralisar ou desestimular a confiança no alcance das metas do acordo, assinado por mais de 190 países em 2016.
"O que nos preocupa é que temos visto recordes atrás de recordes, a temperatura só tem aumentado e tem passado barreiras que até então não tinham sido ultrapassadas, como essa de 1,5 °C. Qualquer aumento causará mais impactos econômicos, ecològicos e sociais. Dessa forma precisamos sim continuar buscando aumentar drasticamente as ações de mitigação para que a gente possa limitar o máximo possível o aumento da temperatura"
A especialista indica que junto com as medidas para frear o aquecimento global, como a redução dos gases de efeito estufa e transformação das economias em baixo carbono, outro desafio central é a implantação de medidas de adaptação, e todas as ações demandam mais financiamento para os países mais pobres.
"Foi um ano que vimos aqui no Brasil, seja com as secas na região Amazônica ou com as enchentes no Rio Grande do Sul, sobre a necessidade de nos adaptarmos. O aumento da temperatura causa um desequilíbrio que permite que esses eventos sejam mais frequentes, são eventos que atingem mais fortemente as populações vulneráveis e para isso vamos precisar de financiamento".
Miriam Garcia ainda destaca que medidas individuais também podem amenizar os impactos e a velocidade do aquecimento global.
"Nossa relação com o transporte deve buscar não só mudar o modo como as viagens são feitas, substituindo veículos individuais por transporte público, por caminhadas, por melhor qualidade de vida, com as pessoas tendo empregos mais próximos às suas casas... Mas também como melhorar os modos existentes: trocando os motores de combustão interna de carros, ônibus por veículos elétricos ou por biocombustíveis."
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu aos governos que apresentem novos planos nacionais de ação climática este ano para limitar o aumento da temperatura global a longo prazo dentro da meta de 1,5°C e ajudar os países mais vulneráveis a lidar com os impactos climáticos devastadores.