Publicado no The Lancet Regional Health - Americas no Ășltimo dia 28, o estudo revelou que aproximadamente um terço dos filhos de mães infectadas durante a gravidez apresentou, nos primeiros anos de vida, anormalidades consistentes com a SĂndrome da Zika CongĂȘnita (SZC).
"As manifestações da sĂndrome envolvem deficiĂȘncias neurológicas funcionais, anormalidades de neuroimagem, alterações auditivas e visuais e microcefalia. Tais disfunções aparecem mais frequentemente de forma isolada do que em combinação, com menos de 0,1% das crianças expostas apresentando duas delas simultaneamente", disse a fundação.
Os resultados foram encontrados a partir da anĂĄlise combinada de dados de 13 estudos que investigam os resultados pediĂĄtricos em gestações afetadas pelo vĂrus zika durante a epidemia de 2015-2017 no Brasil. Esses dados abrangem todas as quatro regiões do paĂs afetadas pela epidemia neste perĂodo, com infecção pré-natal confirmada em laboratório por testes genéticos e avaliação dos potenciais efeitos adversos em nĂvel individual.
Segundo o pesquisador Ricardo Arraes de Alencar Ximenes, da Universidade de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que liderou o estudo, esse trabalho dĂĄ uma contribuição fundamental para a compreensão das consequĂȘncias para a saĂșde da infecção pelo vĂrus zika durante a gravidez, pois reĂșne dados individuais de crianças nascidas de 1.548 gestantes residentes em diferentes regiões do paĂs que tiveram o diagnóstico confirmado de infecção pelo vĂrus zika durante a gravidez, permitindo uma estimativa mais precisa dos riscos
Em relação à microcefalia, condição neurológica em que a cabeça do bebĂȘ é menor do que o esperado para sua idade e sexo, uma a cada 25 crianças nascidas de mães infectadas pelo vĂrus zika durante a gravidez apresentou a disfunção no nascimento ou durante o acompanhamento.
Segundo a Fiocruz, na maioria dos casos, a condição era detectĂĄvel próximo ao momento do nascimento, mas algumas crianças nascidas com perĂmetro cefĂĄlico normal desenvolveram a microcefalia nos anos seguintes.
De acordo com a pesquisa, o risco de filhos de mães infectadas por zika na gestação apresentarem microcefalia foi de 2,6% no nascimento ou quando avaliados pela primeira vez, aumentando para 4% nos primeiros anos pré-escolares. Esse risco foi relativamente consistente nos diferentes locais de estudo, sem apresentar variação relativa às condições socioeconômicas ou ĂĄrea geogrĂĄfica.
Conforme a Fiocruz, a realização de estudos adicionais com tempo de acompanhamento mais longo é apontada pela equipe de pesquisadores como o futuro do estudo publicado. Os possĂveis caminhos para investigação incluem a avaliação do risco de hospitalização e morte para crianças com microcefalia à medida que envelhecem e, naquelas sem microcefalia, averiguar os riscos de outras complicações, como aquelas ligadas ao desenvolvimento comportamental ou neuropsicomotor.