A maior economia da Europa e terceira maior do mundo, a Alemanha, se encontra em um momento econômico extremamente delicado. A recessão alcançou o gigante europeu, já que os economistas preveem um crescimento de apenas 0.4% em 2025, bem abaixo da média continental e mundial. A conjuntura internacional realmente não ajuda, já que o cenário de guerra na Ucrânia e prelúdio de guerra comercial com Trump afetam os mercados em todo o mundo. Contudo, no caso alemão, a culpa pela crise também tem grande responsabilidade própria. As escolhas econômicas e estratégicas muito pobres feitas na última década transformaram a locomotiva financeira do país em uma bomba relógio.
Inevitavelmente que a crise atual tem nos altos custos da energia elétrica e térmica o seu agravamento. Por uma boa parcela dos últimos 30 anos, a aproximação com a Rússia deu aos alemães acesso a petróleo e gás baratos, impulsionando a indústria local e fazendo com que a inflação ficasse sob controle. Com a invasão russa na Ucrânia e as sanções em conjunto da União Europeia à Rússia, cada vez menos gás chegou do leste europeu à Alemanha e consequentemente mais caras ficaram as contas de luz das empresas e domicílios. A sabotagem também veio do próprio Ocidente, ao explodirem parte do gasoduto Nordstream, inviabilizando qualquer negócio futuro com os russos que reestabelecesse o fornecimento.
O automóvel com motor à combustão foi inventado na Alemanha por Karl Benz em 1886 e essa indústria que revolucionou o mundo como o conhecemos teve grandes avanços em solo alemão. As empresas automotivas fundadas aqui nos séculos XIX e XX, trouxeram uma reputação de respeito para os alemães, além de fazer a economia crescer rápido e garantir emprego para dezenas de milhares de pessoas. Fabricar com tanta maestria os motores à combustão é a principal razão da Alemanha ainda ser uma nação altamente industrial. A "criminalização" dos motores à combustão pela União Europeia, proibindo a fabricação e venda de tais veículos no bloco a partir de 2035, coloca uma data de validade na força motriz de toda uma nação. Os substitutos, os carros elétricos, têm suas versões mais tecnológicas produzidas nos Estados Unidos e na China, deixando a Alemanha bem atrás de suas pretensões iniciais. A transição verde feita de maneira puramente ideológica e sem ser aplicada às realidades econômicas de cada nação, está cobrando um preço alto de todo um continente que somado não representa nem mesmo 8% da poluição mundial.
A falta de inovação assola também os alemães, povo que outrora, fundou as maiores empresas de automóveis, remédios e maquinários industriais do mundo. A alta burocracia e profundo atraso digital das instituições e das telecomunicações no país, tornou o processo de criar e inovar, algo extremamente tedioso, demorado e pouco entusiasmante. Uma sociedade que vive com uma internet lenta, dependente das cartas de papel para tarefas simples do dia a dia, e que ainda está aprendendo a introduzir as máquinas de cartões de crédito e débito nos estabelecimentos comerciais. O anacronismo alemão para as atividades mais básicas do cotidiano atrapalhou o processo criativo de um dos povos mais inteligentes e engenhosos da história da humanidade.
O próximo Chanceler terá nas mãos uma herança maldita, uma das piores economias para consertar em um período de paz. Entre a política migratória falida e uma guerra no quintal de casa, o próximo chefe de governo deverá priorizar o básico, a começar com devolver o poder de compra para a classe média e garantir que os empregos tão intrinsicamente ligados à indústria, sejam mantidos. Prezar pela autossuficiência energética e pela digitalização são também pontos essenciais para recuperar a autoestima de um povo cabisbaixo e desesperançoso. Apenas com a recuperação de valores tão básicos, mas tão marcantes no imaginário popular, que a Alemanha poderá voltar a liderar através do exemplo.