Foi o que ocorreu com Ricardo Sanfelice, de 46 anos. Desde junho, ele é diretor executivo do banco BV, à frente da área de clientes, dados e inovação, e responde diretamente ao CEO da instituição. Engenheiro eletrônico de formação, Sanfelice trabalhou por 20 anos na área de telecomunicações em empresas tradicionais. Foram 15 anos na GVT e mais 5 anos na Vivo, onde chegou a ser vice-presidente, responsável por digitalização e inovação. No início de 2019, ele estava decidido a movimentar a sua carreira e ir para outro setor.
No começo de 2020, recebeu um convite para começar do zero um banco digital, o Bari, do grupo Barigui, de Curitiba (PR). Lá ficou até março deste ano, quando concluiu que havia encerrado o ciclo na startup. Na sequência, surgiu o convite do BV para voltar ao mercado corporativo.
Ele diz que o que o motivou a retornar a uma empresa tradicional - o BV é o quinto maior banco privado do País, com mais de 30 anos de existência e sócios de peso como o Banco do Brasil e o Banco Votorantim - foi o tamanho do projeto. "É um projeto encantador de transformação digital que eu estou liderando", afirma.
Ele admite que a remuneração oferecida contou, mas ressalta que esse não foi o fator-chave para a tomada de decisão. "Queria voltar a trabalhar num projeto dessa envergadura", diz, frisando que o Bari segue o seu caminho, sem obstáculos de financiamento enfrentados por outras startups.
PREVISIBILIDADE. De acordo com consultores, neste momento de aperto de liquidez global executivos que fazem o caminho de volta enxergam nas empresas tradicionais mais condições objetivas de recursos para desenvolver projetos profissionais e também maior previsibilidade em sua remuneração.
Na prática, para a maioria dos executivos que migram das startups para empresas tradicionais, não há grandes alterações nos pacotes de remuneração de curto prazo. O impacto da mudança, no entanto, está concentrado no potencial de ganhos de longo prazo. É que as startups vinculam parte dos benefícios dos executivos ao ritmo de crescimento do negócio que, por sua vez, depende das captações de recursos no mercado - que hoje enfrentam cenário desfavorável.
Giovana Cervi, sócia da consultoria Signium, diz que os profissionais estão interessados em voltar para as grandes empresas porque, neste momento, veem nelas um "porto mais seguro". No entanto, a consultora frisa que não se trata apenas de maior previsibilidade e segurança na remuneração para fisgar esses profissionais.
O fator de atração apontado pelos executivos é o desafio do projeto, como o apontado por Sanfelice, do BV. "É muito mais desafiador você estar numa agenda positiva de crescimento e realização do que numa agenda de redução de custos e ajuste de estrutura", diz a consultora, lembrando que, no momento, essa é a situação de parte das startups.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.