Com renda familiar girando em torno de R$ 3 mil, os parentes da idosa disseram que já gastaram mais de R$ 600 adquirindo as insulinas. “No domingo, compramos três "canetinhas", que duram em média duas semanas”, contou a neta da paciente. Segundo a jovem, a família tem encontrado dificuldades financeiras para comprar o material e que precisa do Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o medicamento. “Minha família está fazendo vaquinhas para comprar. Confesso que tem dia que ela fica sem”, desabafa.
A Saúde do DF confirmou, em nota, que não consta nos estoques a insulina Glulisina (Apidra). Há, porém, um “pedido de aquisição do medicamento já empenhado, aguardando entrega”. A pasta informou, ainda, que há outras duas opções com ação ultrarrápida (Aspart e Lispro), e que ambas são repassadas pelo governo federal. O Metrópoles tentou contato com o MS, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
De acordo com a endocrinologista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Angélica Amorim, as insulinas ultrarrápidas se caracterizam por agirem depressa no organismo, controlando a glicose de cinco a 15 minutos. “As apenas rápidas começam a ter efeito 20 minutos depois”, explica a médica. A especialista contradiz a Saúde local e diz que só a Apidra é encontrada gratuitamente.
Também em nota, a Secretaria de Saúde alegou que a paciente teria iniciado o cadastro para recebimento do medicamento de alto custo, mas que não teria finalizado o processo, “o que impede a dispensação para ela. É necessário que ela conclua o cadastro para ter acesso aos medicamentos”.
De acordo com o órgão, os pacientes que recebem a medicação com o recurso federal não podem recebê-la por meio da SES, pois implicaria em desvio de recursos de outros pacientes atendidos pela pasta distrital.
A paciente idosa em questão, contudo, não tem recebido nenhuma insulina ultrarrápida desde 31 de outubro, conforme consta no controle de fornecimento da paciente (veja imagens abaixo). A endocrinologista Angélica Amorim explica que o documento indica que a paciente retira duas insulinas, uma classificada Glargina, que é uso prolongado, e a outra classificada UR, indicando ultrarrápida.
retirada de insulinaretirada insulina0Segundo os documentos guardados pela família da idosa, a última retirada da insulina UR foi em setembro. Quando eles retornaram para buscar os dois medicamentos, no final de outubro, tiveram acesso apenas ao de uso prolongado, conforme consta no receituário. Pelo documento, a última retirada foi em 25 de janeiro, também apenas a de uso prolongado.
A médica especialista ressaltou a importância do uso diário da insulina. “É um risco crônico não estar recebendo, e assim ter um descontrole da glicose no organismo”.
Confira a nota na íntegra da Secretaria de Saúde:
A Secretaria de Saúde esclarece que a insulina de ação ultrarrápida pode ser de três tipos: Aspart, Lispro e Glulisina (Apidra). Esse medicamento é fornecido pelo Ministério da Saúde e pode ser enviado pelo órgão federal em uma das três composições acima.
A pasta informa que está em falta no momento é a insulina Glulisina (Apidra). As demais estão sendo fornecidas normalmente pelo Ministério da Saúde e, disponíveis na rede pública.
Com relação à paciente específica, a secretaria destaca que ela iniciou o cadastro para recebimento de medicamento de alto custo e não finalizou, o que impede a dispensação para ela. É necessário que ela conclua o cadastro para ter acesso aos medicamentos.
A secretaria ressalta que para recebimento dos medicamentos de Alto Custo é necessário cumprir os protocolos estabelecidos. Desta forma, pacientes que recebem a medicação com o recurso federal não podem recebê-la por meio da SES, pois implicaria em desvio de recursos de outros pacientes atendidos pela pasta estadual.
É importante deixar claro que esses casos também ensejam em mudança de marca da medicação, o que pode causar prejuízo ao tratamento. É preciso entender que, após o início do tratamento com uma determinada marca (fornecida pelo MS ou pela SES), o paciente deve cumprir todo ciclo com aquele mesmo medicamento. Isso ocorre para a própria segurança do paciente.
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