Os dados constam de relatório divulgado pelo Ministério da Justiça nesta quinta-feira, 20. O ministro Flávio Dino classificou a diferença na atuação da PRF entre regiões como um 'desvio de padrão' em relação à atuação rotineira da corporação.
O diretor-executivo da PRF Antônio Jorge Azevedo Barbosa diz que houve 'mudança estratégica da atuação da PRF entre o primeiro e o segundo turnos'. "Ficou claro que houve um interesse estratégico diferente do modus operandi da PRF em outras situações. Algo que não era costumeiro", afirmou, durante coletiva no Palácio da Justiça. Segundo ele, a operação foi 'desproporcional no Nordeste, em relação às outras regiões'.
Durante aquele período, a PRF realizou 4.591 fiscalizações em todo o Brasil. O número de operações na região Nordeste corresponde a 47% do total de inspeções em coletivos que transportavam eleitores para votação.
Somente no dia do segundo turno, 30 de outubro, que sagrou como vencedor o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram fiscalizados 324 ônibus na malha viária nordestina.
O número de veículos de transporte coletivo retidos no Nordeste é ainda mais discrepante do que os registrados em outras regiões. Foram 48 ônibus barrados pela PRF. Na região Sudeste, 9. No Centro-Oeste, 8. Na região Norte, 5. Na região Sul, 4.
As operações da PRF envolvendo as fiscalizações no Nordeste no segundo turno colocaram a corporação no centro de suspeitas. Ela teria agido para favorecer a candidatura do então presidente Jair Bolsonaro, que buscava a reeleição.
Logo nas primeiras horas de votação no dia 30 de outubro, eleitores denunciaram, nas redes sociais, abordagens feitas pela corporação, com foco na malha viária nordestina, a pretexto de combater o transporte irregular de eleitores.
As denúncias levaram o presidente do Tribunal Superior Eleitoral Alexandre de Moraes a determinar que o então chefe da PRF Silvinei Vasques explicasse a razão das abordagens e proibir operações da corporação 'relacionadas ao transporte público, gratuito ou não, disponibilizado aos eleitores'.
Horas antes, o dia decisivo havia amanhecido com uma foto publicada no Instagram por Silvinei, no qual ele pedia a seus seguidores, abertamente 'Vote 22', número de Bolsonaro nas urnas. O post foi posteriormente apagado.
A publicação e a atuação da PRF no dia do segundo turno, somadas a outras condutas do então chefe da PRF, colocaram Silvinei na mira de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal sob suspeita de prevaricação, violência política e omissão.
Ele também é réu em uma ação de improbidade, que lhe imputa 'verdadeira propaganda político-partidária e promoção pessoal de autoridade com fins eleitorais'.
O ex-diretor-geral foi primeiro afastado do cargo e depois se aposentou aos 47 anos de idade com 'proventos integrais' que passam de R$ 16 mil.
O relatório divulgado pelo Ministério da Justiça contém apenas números relacionados ao mutirão da PRF nas estradas no segundo turno das eleições.
O documento não cita nomes, mas aliados do presidente Lula avaliam que os dados nele contidos reforçam as suspeitas de que a PRF agiu fortemente para dificultar o trânsito e o voto de petistas.