Para o pesquisador, monitorar os casos, identificar as segmentações de idade, gênero e regiões fazem parte de um conjunto de estratégias de enfrentamento do cenário. "Um dos primeiros passos é monitorar adequadamente o problema, pois o desafio da subnotificação, especialmente em regiões menos desenvolvidas, limita o alcance de políticas públicas adequadas à sua prevenção, justamente entre os mais vulneráveis", disse à Agência Brasil.
De acordo com o estudo publicado na revista internacional, o fato de o Brasil ter tido um número tão grande de mortes por covid-19 e outros danos materiais e imateriais fazem que efeitos devastadores da pandemia não tenham ficado totalmente para trás.
"É fundamental que trabalhadores de saúde, pesquisadores, população em geral, gestores e tomadores de decisão não apenas sigam monitorando os possíveis efeitos residuais da pandemia sobre os suicídios e se preparando para novas emergências sanitárias, como também promovam o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial", defende.
A Rede de Atenção Psicossocial corresponde a um conjunto articulado de diferentes pontos de atenção à saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), com foco em acolhimento e tratamento de pessoas com transtorno mental e/ou dependências químicas.
"Em termos de atenção psicossocial, é crucial a ampliação de estratégias que integrem e envolvam não apenas vítimas em potencial e pessoas do entorno, mas diferentes atores da sociedade civil organizada, tomadores de decisão, trabalhadores de saúde e comunidade", observa Orellana.
Na visão do pesquisador, a sociedade deve ter parte ativa no enfrentamento do problema.
"É preciso ampliar a discussão do problema junto à sociedade, pois mitos, tabus e até mesmo visões preconceituosas ou pouco empáticas acabam agravando o problema", aponta. "Neste caso, processos de escuta ativa e o reconhecimento de sinais que indicam conduta ou propensão ao suicídio são cruciais, assim como limitar métodos que oportunizam a autoagressão letal, como armas de fogo", conclui.
A opinião do pesquisador sobre a importância de "quebrar o silêncio" para prevenir casos de suicídio faz coro a outros especialistas, como já mostrou reportagem da Agência Brasil.
Estamos em pleno Setembro Amarelo, mês especialmente dedicado à prevenção do suicídio. Um dos objetivos da ação é aumentar a conscientização sobre sinais de que uma pessoa pensa em tirar a própria vida. A Agência Brasil aponta alguns indícios, segundo a campanha:
- Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
- Publicações nas redes sociais com conteúdo negativista ou participação em grupos virtuais que incentivem o suicídio ou outros comportamentos associados;
- Isolamento e distanciamento da família, dos amigos e dos grupos sociais, particularmente importante se a pessoa apresentava uma vida social ativa;
- Atitudes perigosas que não necessariamente podem estar associadas ao desejo de morte (dirigir perigosamente, beber descontroladamente, brigas constantes, agressividade, impulsividade, etc.);
- Ausência ou abandono de planos;
- Forma desinteressada como a pessoa está lidando com algum evento estressor (acidente, desemprego, falência, separação dos pais, morte de alguém querido);
- Despedidas ("acho que no próximo Natal não estarei aqui com vocês", ligações com conotação de despedida, distribuir os bens pessoais);
- Colocar os assuntos em ordem, fazer um testamento, dar ou devolver os bens;
- Queixas contínuas de sintomas como desconforto, angústia, falta de prazer ou sentido de vida;
- Qualquer doença psiquiátrica não tratada (quadros psicóticos, transtornos alimentares e os transtornos afetivos de humor).
Entre os profissionais que tratam de saúde mental e instituições especialistas em prevenção ao suicídio, é unânime a ideia de procurar (ou orientar) ajuda específica sempre que sentir necessidade de acolhimento (ou perceber que alguém precisa). Veja alguns canais de acolhimento:
- Centro de Valorização da Vida (CVV), realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.
- Mapa da Saúde Mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário online e presencial em todo país.
- Pode Falar, um canal lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. Funciona de forma anônima e gratuita, indicando materiais de apoio e serviço.