A secretaria de Educação foi a primeira a ter um nome confirmado para seu comando, o do empresário Renato Feder -atual chefe da pasta no Paraná. A definição era uma das prioridades do governador eleito, já que o ano letivo começa em 6 de fevereiro.
A transição do governo paulista foi dividida em oito grupos temáticos. Um deles é o de Educação, Cultura e Esporte, com 18 nomes -nove deles relacionados à educação.
Dois dos escolhidos já são da equipe de Feder no Paraná. Gustavo Garbosa, diretor de tecnologia e informação da pasta, foi o responsável por implantar plataformas de educação digital para o ensino a distância e transmissão de aulas pela televisão. Já Vinicius Neiva, diretor geral da secretaria paranaense, trabalhou por 20 anos como auditor federal de finanças e tem formação em administração pública.
Também está na equipe o empresário Jair Ribeiro, criador da ONG Parceiros da Educação, que atualmente atua com seus projetos em mais de 600 escolas estaduais paulistas.
"A presença de Jair Ribeiro representa uma continuidade da relação com institutos e fundações privadas já instaladas na secretaria", afirma Salomão Ximenes, professor de políticas públicas da UFABC. Ele lembra que a ONG foi a responsável por desenhar e implantar o programa Educação - Compromisso de São Paulo, na gestão Geraldo Alckmin (PSB), "funcionando como uma espécie de hub de um conjunto de PPPs [parcerias público-privadas]".
A avaliação é que gestão de Tarcísio deve manter políticas que já existem na secretaria de Educação com o setor privado e ampliar a parceria para novas modalidades, como a privatização da gestão escolar -modelo defendido e aplicado por Feder no Paraná.
Essa deve ser a aposta do novo secretário para contornar a falta crônica de professores nas escolas estaduais paulistas. Na rede de ensino paranaense, Feder colocou os alunos do ensino médio para assistir a parte das aulas pela televisão dentro das salas.
Tarcísio também anunciou como integrante a empresária Lana Romani, presidente do Movimento Escolas Abertas. O grupo foi criado por famílias de alunos de escolas particulares para pressionar as autoridades a retomar as aulas presenciais durante a pandemia de Covid-19.
O movimento entrou em diversos embates com sindicatos de professores. Depois da reabertura das escolas, passou a defender outras pautas, como a privatização da educação e o fim do que chamam de "doutrinação" no ensino.
"A gente vive em um país em que a educação ficou sempre na mão do Estado, dos sindicatos de professores, dos especialistas. As famílias não são ouvidas. Eu quero colaborar sendo essa voz das famílias", disse Romani à Folha de S.Paulo.
Outro membro da transição na área de educação é a deputada estadual Valéria Bolsonaro (PL) -o avô do marido de Valéria era irmão do avô de Jair Bolsonaro. Ela é formada em biologia e, antes de ser eleita para o seu primeiro mandado em 2018, foi professora na rede estadual.
Reeleita agora em outubro, Valéria apresentou na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) projeto de lei que proíbe a suposta "ideologia de gênero" nas escolas das redes pública e privada no estado -decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) já derrubaram uma série de iniciativas nesse sentido.
A deputada também propôs proibir a exigência de apresentação do cartão de vacinação contra a Covid-19 em locais públicos e privados.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2019, Valéria disse que optou pela política para combater a precariedade do ensino público e criticou a educação sexual. "Educação sexual é o que os professores estavam tentando colocar de forma que a mulher é dona do seu corpo e faz dele o que quiser. É a família que deve ensinar essa parte", declarou a deputada, na ocasião.
Ela também criticou a abordagem histórica sobre a ditadura brasileira. "Os livros criminalizam os militares. Aparece que os militares matavam e torturavam aqueles que lutavam pela democracia, e isso não é verdade. Não se fala em guerrilheiros."
A visão defendida por Bolsonaro e pela deputada contraria os fatos e a historiografia, que apontam o movimento de 1964 como um golpe militar ou civil-militar.
Outro nome da equipe é o do engenheiro André Simmonds, que trabalha na Uber como gerente de operações e estratégia e foi analista de projetos da Fundação Lemann, organização que promove iniciativas para a educação pública.
Também foi chamada Filomena Siqueira, gerente de avaliação e material didático do Instituto Reúna, que acompanha a implantação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
O grupo de transição tem, ainda, o ex-deputado Thiago Peixoto, que foi secretário de Educação de Goiás. Ele chegou a ser citado como um dos cotados para assumir a secretaria paulista.
O nome de Peixoto havia sido sugerido a Tarcísio pelo próprio coordenador da equipe de transição, Guilherme Afif Domingos (PSD), e por Gilberto Kassab, chefe da sigla e articulador da campanha do governador eleito.
A nomeação de Feder, alinhado ao bolsonarismo, representou um revés para a dupla.
Eles defendiam a boa atuação de Peixoto à frente da secretaria de Goiás, já que em sua gestão as escolas estaduais de ensino médio passaram do 7º lugar para o 1º no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Também argumentavam que o ex-deputado tem boa experiência política e grande aceitação entre as fundações da área.
Integrantes da transição relataram à Folha de S.Paulonão ter recebido até agora nenhuma orientação ou cronograma sobre como será o trabalho do grupo para a educação. Eles avaliam que, na prática, a atuação será mais para definir a composição da equipe da secretaria de Feder.
Quem está no grupo de Educação, Cultura e Esportes de São Paulo Aildo Rodrigues André Simmonds Filomena Siqueira Gustavo Souza Garbosa Jair Ribeiro José Roberto Walker Karen Cristina Garcia Lana Romani Marcelo Magalhães Maurreen Maggi Patricia Borges Paula Trabulsi Pedro Machado Mastrobuono Renato Feder Talmo Oliveira Thiago Peixoto Valeria Bolsonaro Vinícius Mendonça Neiva