Conflito na Síria entre forças de segurança e apoiadores de Assad deixa mais de mil mortos
As autoridades da Síria afirmaram, neste sábado (8), que buscam “restabelecer a ordem” no noroeste do país, antigo reduto do presidente deposto Bashar al Assad onde, segundo uma ONG, mais de mil pessoas foram mortas, incluindo 745 civis, 125 membros das forças de segurança do governo e 148 militantes de grupos armados ligados a Assad.
As autoridades da Síria afirmaram, neste sábado (8), que buscam “restabelecer a ordem” no noroeste do país, antigo reduto do presidente deposto Bashar al Assad onde, segundo uma ONG, mais de mil pessoas foram mortas, incluindo 745 civis, 125 membros das forças de segurança do governo e 148 militantes de grupos armados ligados a Assad.
A segurança é um dos maiores desafios enfrentados pelo novo governo sírio de base islamista, que foi instalado em dezembro após uma rebelião que derrubou o presidente em 11 dias. Desde quinta-feira, as forças de segurança têm se envolvido em violentos combates contra homens leais ao presidente deposto, que governou o país com mão de ferro por 24 anos.
Os incidentes, os primeiros deste magnitude após a queda de Assad, ocorreram após um ataque sangrento de apoiadores do ex-presidente às forças de segurança na cidade costeira de Jableh na noite de quinta-feira, de acordo com as autoridades.
No dia seguinte, as forças de segurança iniciaram operações de busca na área de Latakia, um reduto da minoria alauíta, um ramo do islamismo xiita ao qual Bashar al Assad e sua família pertencem.
Neste contexto, o OSDH indicou em um novo relatório, publicado neste sábado, a morte desde quinta-feira de pelo menos 745 civis alauítas, incluindo mulheres e crianças, na região costeira, onde se concentra esta comunidade que representa 9% da população do país.
A ONG, que tem uma ampla rede de informantes no local, afirmou que esses civis foram “executados” por “motivos confessionais” por agentes de segurança e combatentes pró-governo, e que também houve “saque de casas e propriedades”.
As mortes destes civis elevam o número de mortos desde quinta-feira para 1.018, incluindo 273 membros das novas forças de segurança e combatentes pró-Assad. As Igrejas sírias denunciaram neste sábado os “massacres de civis inocentes” e pediram o “fim imediato desses atos horríveis”.
Estradas interditadas
Uma fonte do Ministério da Defesa citada pela agência de notícias oficial Sana afirmou que “as estradas que levam à região costeira foram fechadas”. As forças de segurança foram solicitadas a “restabelecer a ordem” em Jableh, Tartus e Latakia, disse a mesma fonte, que relatou a prisão de um “grande número de saqueadores”. O ministro da Educação, Nazir al Qadri, anunciou o fechamento das escolas no domingo e na segunda-feira nas províncias de Latakia e Tartús, informou a Sana.
O OSDH e outras fontes publicaram vídeos na sexta-feira mostrando dezenas de corpos vestidos como civis empilhados no pátio de uma casa, com várias mulheres chorando nas proximidades. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) fez uma apelo a um acesso “seguro” para os profissionais de saúde e de resgate no oeste da Síria.
Tensão permanente
Em um país formado por diversas comunidades — sunita majoritária, curda, cristã, drusa — os alauítas estavam fortemente representados no aparato militar e de segurança do clã Assad, que por mais de meio século, primeiro com Hafez e depois com Bashar, governou o país de forma autoritária e repressiva.
Desde que o segundo foi derrubado em 8 de dezembro, as tensões aumentaram na costa do Mediterrâneo e nas montanhas, com apoiadores do clã Assad e ex-soldados do exército sírio atacando as novas forças de segurança.
O presidente interino sírio, Ahmad al Sharaa, tem um passado jihadista e foi o líder do Hayat Tahrir al Sham, o grupo islamista que liderou a rebelião. Sharaa tentou tranquilizar as minorias prometendo que a nova Síria será inclusiva, mas essa linha não é necessariamente compartilhada pelas facções que operam sob seu comando e que agora compõem a maior parte do exército e da polícia, observa o analista Aron Lund, do think tank Century International.
“Grande parte dessa [nova] autoridade está nas mãos de jihadistas radicais” de fé sunita, “que consideram os alauitas inimigos de Deus”, explica Lund, que acredita que esses confrontos demonstram “a fragilidade do atual governo”. Em um discurso na sexta-feira, Sharaa pediu aos insurgentes no oeste do país que “deponham as armas e se rendam, antes que seja tarde demais”.
*Com informações da AFP
Publicado por Carolina Ferreira