Também são cada vez mais comuns relatos de dificuldades de pacientes que utilizam o medicamento Ozempic, nome comercial do remédio que tem como princípio ativo a semaglutida, para o tratamento de diabete tipo 2 não controlada, para encontrar o remédio nas farmácias brasileiras.
No início de fevereiro, a Novo Nordisk, fabricante do remédio, disse que o desabastecimento é resultado de uma procura muito maior do que a prevista. "Cabe ressaltar que não há problemas de qualidade ou regulatórios com o medicamento." No mesmo mês, a fabricante informou que o reabastecimento de distribuidores, atacadistas e farmácias no País deve ser normalizado durante o segundo trimestre de 2023, com o aumento da capacidade de produção anual da empresa.
Estilo de vida
Por meio do comunicado, as entidades médicas esclarecem que a obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento. Desta forma, nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico.
"O tratamento medicamentoso da obesidade, sempre em conjunto com estratégias de estilo de vida, é recomendado em diversas diretrizes de tratamento ao redor do mundo por aumentar a eficácia dessas estratégias. Como qualquer outra doença crônica, a manutenção da eficácia dependerá da manutenção do tratamento e é esperado que a recuperação de peso ocorra caso o tratamento medicamentoso seja abandonado", diz o comunicado.
"A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas sim em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta."
A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg/semana, de acordo com as entidades. No Brasil, apesar de aprovada desde 2 de janeiro, a dose de 2,4 mg ainda não está sendo comercializada. No momento, apenas a formulação para diabete tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg, está disponível no País.
"Assim, embora, a priori, o uso da dose de 1,0 mg seria considerado 'off-label', o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usado pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS)", diz ainda o comunicado.
Ainda de acordo com a ABESO e a SBEM, vêm sendo dissiminadas informações que confundem e misturam o que é o tratamento sério da obesidade e o que significa o "desejo social de emagrecer".
"O uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do que o tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida", acrescentou.
Não obstante, como qualquer outra medicação, dizem, a comercialização deve ser feita somente sob prescrição médica. A venda sem prescrição, destacam as entidades, deve ser desencorajada e vetada, e é função do profissional farmacêutico que preste atenção à receita e siga os protocolos padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Vejas o esclarecimento divulgado pelas entidades:
- Medicamentos para obesidade aprovados pela Anvisa têm sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas sim selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança.
- O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica.
- Como adendo, lembramos que a ABESO e SBEM buscam melhorar o acesso a tratamentos da obesidade para a população geral, seja trabalhando para reduzir o preconceito com terapias para obesidade (medicamentosas ou não), como por buscar, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis a maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade.
O comunicado foi assinado por Bruno Halpern, presidente da ABESO, e por Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da SBEM.
Entenda mais sobre os medicamentos Ozempic (semaglutida), Saxenda (liraglutida) e Wegovy (semaglutida):
Ozempic (semaglutida)
O Ozempic é usado, em conjunto com dieta e exercícios, para tratar pacientes adultos com diabete tipo 2 não satisfatoriamente controlada (quando o nível de açúcar no sangue permanece muito alto), de acordo com a Novo Nordisk.
"É importante ressaltar que a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos. O Ozempic, aprovado e comercializado no Brasil para diabetes tipo 2 e cujo princípio ativo é o mesmo do Wegovy (semaglutida), não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para obesidade", afirma a fabricante.
Saxenda (liraglutida)
Atualmente, o único medicamento da Novo Nordisk comercializado no Brasil para o tratamento da obesidade é Saxenda (liraglutida), lançado no País em 2016.
Em 2020, a medicação foi aprovada para prescrição também em adolescentes de 12 a 18 anos, tornando-se o único tratamento para obesidade aprovado para faixa etária no País.
"Cabe ressaltar que, no fim do ano passado, a Novo Nordisk submeteu o Saxenda (liraglutida), para análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). A análise está em andamento."
Wegovy (semaglutida)
O Wegovy (semaglutida) foi aprovado para o tratamento da obesidade pela Anvisa, em 2 de janeiro, com base nos estudos de segurança e eficácia do programa Semaglutide Treatment Effect in People with Obesity (Efeito do tratamento com semaglutida em pessoas com obesidade, em tradução livre). Tem previsão de chegada ao mercado brasileiro no segundo semestre deste ano.
"O medicamento é indicado como coadjuvante à redução de calorias e aumento da atividade física em adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) inicial maior ou igual a 30 kg/m2 (obesidade) ou maior ou igual a 27 kg/m2 (excesso de peso) na presença de pelo menos uma comorbidade relacionada com o peso", disse a fabricante.
De acordo com a empresa, todos os medicamentos necessitam de prescrição médica. Não há retenção de receita.