Ao longo da semana, serão abordados temas como mais tecnologia com menos emissões de CO2, segurança da sociedade e das plantas de geração nucleares, as obras da usina de Angra 3, oportunidades de negócios e as aplicações da tecnologia nuclear no meio ambiente, medicina, agricultura e indústria.
“Ao discutir fissão e fusão, estamos trabalhando exatamente nessa linha. Nós já temos uma estratégia de recursos que começaram neste ano e, para o ano que vem, já tem todo um conjunto de encaminhamentos, seja que governo for, porque nós estamos falando de política de Estado. Estamos falando de uma capacidade científica e tecnológica, de uma competência empresarial e de uma teia de atores que formam um ecossistema irreversível que nós temos. E precisamos de previsibilidade e continuidade”, afirmou o ministro.
De acordo com o relatório Balanço Energético Nacional, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2021, o Brasil utilizou 44,7% de energias renováveis e 55,3% de não renováveis. A energia nuclear corresponde a 1,3% do total da matriz brasileira e chega a 5% no mundo.
A produção de energia elétrica por tecnologia nuclear consiste em aproveitar propriedades naturais das reações nucleares de elementos químicos como o urânio, em usinas termonucleares. A principal forma é a fissão, onde o núcleo atômico se divide em duas ou mais partículas, liberando energia.
Essa energia é usada para aquecer a água que passa pelo reator, chegando a uma temperatura de 320 graus Celsius. A água que entra em contato com o urânio é mantida isolada e sob pressão, para trocar calor com outro circuito de água, onde se forma o vapor que move a turbina de geração elétrica. A matriz nuclear é considerada limpa por não queimar combustível fóssil, como petróleo, carvão ou gás, para a produção de energia elétrica, não emitindo gases de efeito estufa.
Também no Seminário, o professor de Física Aplicada da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Artaxo, ressaltou a urgência com que o mundo precisa agir para evitar uma catástrofe climática irreversível. De acordo com Artaxo, que é membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), equipe ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2007, o mundo debate o tema desde 1972, mas nada foi feito até o momento para frear o aquecimento global, e o planeta caminha para uma emergência climática, com aumento das emissões em cerca de 2% a 4% ao ano.
“Essas emissões se traduzem no aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. No caso do CO2, já aumentamos a sua concentração atmosférica em 66%, comparado com o período pré-industrial. De metano, 259%, e de dióxido nitroso, 123%. A nossa espécie está mudando a composição da atmosfera terrestre e os impactos no clima são muito significativos”.
Segundo o professor, o IPCC já alertou que evidências científicas apontam para o aquecimento do planeta em 3ºC até 2100, o que vai modificar o regime de chuvas e secas e elevar 1 metro no nível do mar. Com isso, o país passará a ter grandes secas na Amazônia e no Brasil Central, além de aumentarem as chuvas no Sul e de toda a costa ser afetada.
Para Artaxo, a energia nuclear não é a melhor opção, por causa do alto custo de instalação das usinas e do tempo de construção, acima de 15 anos, além da proliferação dos rejeitos radioativos que essa matriz pode gerar.
“Como temos urgência na questão climática, e a energia eólica e solar hoje podem ser aplicadas rapidamente com custos iniciais muito baixos, a energia nuclear vai ter que resolver essas dificuldades. Além disso, tem um preço alto de operação, pelas próprias questões de segurança e de usar combustível enriquecido na operação, que não estão ainda totalmente resolvidos. A proliferação de materiais físseis, com meias vidas de milhares de anos, é um problema que ainda não foi totalmente resolvido”, disse Artaxo.